Rua 13 de Maio, 70. Este é o endereço do Estúdio Traquitana, localizado no lendário e popular bairro do Bixiga, distrito da Bela Vista, em São Paulo. Lá, em 2010, nasceu uma das bandas mais interessantes do cenário da música brasileira atual, o Bixiga 70. O nome da banda é uma homenagem ao próprio endereço do estúdio, mas também leva em conta toda a sonoridade produzida na década de 1970, bem como uma referência ao Africa ’70, banda que acompanhou Fela Kuti por boa parte da sua carreira.
O Bixiga 70 é um supergrupo formado por dez integrantes, que permanecem ligados a esse projeto desde o início. São competentes músicos provenientes de trabalhos e projetos distintos, mas que sentiam a necessidade de promover algo único, onde pudessem se debruçar sobre influências que agradavam a todos eles, podendo ter, assim, maior liberdade de criação. Um projeto de música instrumental, especificamente ligado a ritmos afro-brasileiros e essencialmente africanos.
E desde o álbum de estreia, Bixiga 70, a banda vem desenvolvendo uma sonoridade bastante peculiar, inédita e muito criativa, com referências étnicas diversas. O afrobeat é uma marca corrente, forte, e junta-se à ela referências de jazz, temas do folclore e religiosidade brasileira, jazz, samba e música latina. Fela Kuti pode ser citado como uma das referências artísticas notórias, mas não para por aí: temos os grupos brasileiros Black Rio, Sossega Leão, Funk Como Le Gusta e os internacionais Antibalas e Five Alarm Funk.
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Trata-se de uma banda que desenvolve um trabalho seríssimo. Há estudos profundos acerca da música africana. A apropriação, por parte da percussão, do ritmo malinké é um exemplo. Há um respeito enorme dos integrantes, tanto com relação à musicalidade que desejam alcançar, quanto com a cultura e religiosidade que permeia todo o trabalho realizado pelo Bixiga 70. Aliás, respeito este que parece haver entre os dez integrantes do grupo, que conseguem desenvolver, cada qual à sua maneira, seu repertório musical com bastante habilidade, sem que haja confronto de notas, acordes, ideias.
“E desde o álbum de estreia, Bixiga 70, a banda vem desenvolvendo uma sonoridade bastante peculiar, inédita e muito criativa, com referências étnicas diversas.”
A influência da música brasileira (sobretudo a música afro-brasileira) pode ser notada através da presença do samba e dos temas envolvendo umbanda e candomblé. No Bixiga 70, a música torna-se uma forma de celebrar a intensidade e a pulsação da própria vida. Os shows ao vivo da banda são a exemplificação máxima dessa celebração, onde todos que ali estão podem presenciar uma sintonia única, uma conexão que começa a tomar todos os poros do corpo e ultrapassa os limites da razão.
E por ser uma banda que dialoga por diversas faixas de musicalidade, o Bixiga 70 tem conseguido atingir reconhecimento também internacional, tocando em diversos festivais mundo afora. Os caras do bairro do Bixiga nunca foram de estabelecer limites e/ou fronteiras para a sua música. Portanto, pode-se concluir que não há fronteiras para o lugar em que a música da banda faça sentido. Para cada pessoa, talvez faça sentido de uma forma diferente, mas há muitos sentidos e motivações em jogo.
Em 2015, o Bixiga 70 lançou o seu terceiro disco. Trata-se de um trabalho de consolidação de uma banda relativamente nova, e que parece não ter receio de procurar o novo. A busca, talvez, seja por angariar um número maior de conhecedores e adeptos do trabalho do grupo. Por ser independente, por criar uma musicalidade instrumental que fica um tanto à beira dos interesses midiáticos, o grupo segue em sua linhagem própria, sem ceder muito. O Bixiga 70 procura (e faz música para) ouvintes que gostam de sons criados com muita coragem, respeito, pulsação e musicalidade. Se o perfil descrito é o seu, então chega mais!