Talvez seja um pouco difícil para os fãs do “quarteto de ferro” do grunge – Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden e Alice in Chains – assumir que havia muita coisa boa além dos três na cena de Seattle, quiçá até melhor. O grunge, como um subgênero do rock, foi alimentado, entre outras coisas, pela cena punk e metal da cidade, além dos grupos do nordeste norte-americano.
Sonic Youth, Dinosaur Jr (que fez uma recente tour pelo Brasil) e o Pixies eram sempre citadas nas entrevistas das bandas de Seattle. Outros grupos como The U-Men, 10 Minute Warning e mesmo o Melvins estavam sempre pela cidade ou mesmo nas rádios locais.
O Melvins, inclusive, era uma das bandas favoritas de Kurt Cobain. Chegaram a fazer alguns shows juntos e uma tour pela Europa, na qual a banda de Buzz Osborne abriu os shows. A mistura do som do Melvins, que ia do punk ao sludge metal fez que, por vezes, algumas pessoas os incluísse entre as bandas da cena grunge.
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Como costume em cenas locais, muitos músicos acabavam participando de mais de uma banda ao mesmo tempo, ou mesmo músicos de diferentes grupos já haviam tocado juntos em outras ocasiões, em bandas que precederam o “quarteto de ferro”. A Mad Season, por exemplo, fazia parte do primeiro caso. Formada em 1994, faziam parte músicos do Alice in Chains, Pearl Jam e Screaming Trees.
Como costume em cenas locais, muitos músicos acabavam participando de mais de uma banda ao mesmo tempo ou mesmo músicos de diferentes grupos já haviam tocado juntos em outras ocasiões.
Com um som mais bucólico e denso, a Mad Season gravou apenas um disco, Above, de 1995. Deste registro, o destaque ficava para “River of Deceit”, uma das mais belas composições do grunge. A faixa, composta pelo já falecido vocalista Laney Stanley, é inspirada pela leitura do livro O Profeta, de Khalil Gibran. Instrospectiva, a canção era uma espécie de “viagem espiritual”. Havia muito do músico nas canções do disco, muita coisa fruto de seu conflito interno pelo vício em drogas como a heroína.
Já Green River e Mother Love Bone são grupos da segunda parte da história. Formadas entre o início e o final da década de 1980, tinham características mais próximas das bandas que as influênciaram e, no caso do Green River, também algo do metal dos anos 1970.
A Green River foi a primeira banda de Jeff Ament e Stone Gossard, que anos mais tarde formariam o Pearl Jam, e de Mark Arm e Steve Turner, que criariam a Mudhoney, outra que é pouco conhecida do grande público – mas febre em um pequeno nicho, o que deu à banda ares de grupo cult.
O som da Green River era mais sujo, puxado para o noise rock e o garage punk. A postura de Mark Arm e seus gritos ganhariam adeptos mais tarde – impossível não lembrar de Kurt Cobain. Já o Mother Love Bone, que também contava com Ament e Gossard, poderia ter sido o grande nome da cena. Poderia se Andrew Wood não tivesse sucumbido ao vício.
Wood tinha muita presença de palco, um carismo imenso, uma voz potente e era genial em suas composições. Ex-integrante do 10 Minute Warning, era mais influênciado pelo glam de David Bowie e Marc Bolan, e pela psicodelia de Jim Morrison, do que necessariamente pelo punk. Sua morte, pouco depois do lançamento do primeiro e único disco do grupo (Apple, de 1990), abriu espaço para Kurt Cobain tornar-se o líder de toda aquela geração.
“Chloe Dancer/Crown of Thorns”, que posteriormente Eddie Vedder incluiria no repertório do Pearl Jam turante as tours de Riot Act (2002), Pearl Jam (2006) e Backspacer (2009), já havia saído no EP Shine, de 1988. Ela era, na verdade, duas músicas feitas em sequência, quase como se houvesse uma grande intro – representada por “Chloe Dancer” – que desenbocava na canção propriamente dita – “Crown of Thorns”.
No disco Apple, a primeira parte não esteve presente, assim os oito minutos e vinte segundos ficaram restritos ao EP. Melancólica e com um belo instrumental, Andrew Wood fez dela uma canção poderosa e incrivelmente emotiva. A música fez parte da trilha do Singles – Vida de Solteiro, do diretor Cameron Crowe, e foi considerada pela revista Rolling Stone uma das 50 Melhores Canções com mais de 7 minutos de duração.
Pensa que acabou? Semana que vem tem mais. Até lá.