Uma das bandas mais criativas surgidas no Paraná na última década, a Red Mess lançou em abril um novo EP, Phantom Limb. Na sequência de seus trabalhos anteriores, o registro é recheado de referências sonoras.
O disco transita no confronto entre a sagacidade e a crueza característica do independente, e o primor e o requinte de quem agora é distribuído pela produtora Abraxas, especializada em doom, psicodelia e stoner.
Thiago Franzim, Douglas Labigalini e Lucas Klepa se mostram cada vez mais fiéis à sua independência, e ao que isso representa em termos de liberdade criativa. O power trio faz do novo EP um prelúdio agressivo do que será Breathtaker, segundo álbum completo a ser lançado no próximo dia 14 deste mês.
Segue o esforço coletivo para manter a Red Mess dentro do núcleo de referências que cada membro carrega consigo e compõem o buquê de influências, responsáveis pela gestação da trajetória do grupo.
Analisar as quatro canções que formam o EP nos permite conferir a habilidade com que atuam os rapazes, criando faixas de rock implacavelmente viscerais, numa espécie de manual de instruções para o rock contemporâneo. Ao mesmo tempo, provocam no público uma espécie de sensação de simbiose e de reflexão.
Analisar as quatro canções que formam o EP nos permite conferir a habilidade com que atuam os rapazes, criando faixas de rock implacavelmente viscerais.
Enquanto o primeiro diz respeito ao encontro com um quase proto-stoner – onde, em especial, as digitais de um In Utero (1993) pululam -, o segundo tenta chamar a atenção sobre a importância do inconformismo (sob diferentes óticas) e do cenário caótico em que vivemos.
Não ter esperança, como a Red Mess canta em “Ain’t Got no Hope”, pode ser interpretada a partir de uma perspectiva metafórica: buscar ter o que não se tem mais. Há doses de sarcasmo, desgosto com as relações purulentas desenvolvidas em sociedade, mas, principalmente, um grito seco e cansado dirigido à própria humanidade.
Esse membro fantasma ao qual o título do EP evoca não parece dizer respeito a um objeto concreto, a um lamento sujo de riffs, mas uma forma de acelerar sua própria reinvenção.
Nesse caminho, Phantom Limb pode ser interpretado como uma fase embrionária, um ensaio atrevido e comovente do porvir. Se destilam eventualmente alguns versos carrancudos, ao mesmo tempo parecem estar dispostos a alcançar boas novas em seus próprios termos.
De tudo que se pode dizer a respeito da Red Mess, a resignação aparente também esconde uma espécie de otimismo disfarçado. São contrastes fortes, mas que se destacam. É uma ode à composição simples, crua e básica, sem excessos, mas, ironicamente, inquietas e irreprimíveis.
Trabalhos como Phantom Limb restabelecem a sensação fortalecedora de se sentir vivo, ainda que, paradoxalmente, exija nos confrontar com algo doloroso, como não ter perspectivas esperançosas.
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