Começar um texto pedindo desculpas sempre foi algo que condenei, mas nesse caso preciso abrir uma exceção. É claro que o recém-lançamento de “Bang Bang” é importantíssimo para os fãs de Green Day, mas é que, a essa altura do campeonato, a volta da identidade do trio de Oakland é mais que necessária para garantir até mesmo a sobrevivência do legado de uma das poucas bandas punk que entraram pro Rock N’Roll Hall of Fame. Não que a banda deixou de ser incrível, mas eles precisavam de uma redenção para si.
Desde que atingiram o topo das paradas e literalmente conquistaram o mundo com American Idiot, o Green Day sabe que repetir o feito se tornou algo difícil. O lançamento de 21st Century Breakdown veio cheio de expectativas, mas não passou disso. E logo depois, em 2012, a banda se soltou das amarras do punk, adotou influências do rock clássico e praticamente vomitou a trilogia ¡Uno!, ¡Dós! e ¡Tré! para os fãs.

Muito do que se pode atribuir ao baixo impacto das obras pós-American Idiot podem ser refletidas pela própria ideologia por trás do álbum. Com American Idiot, a banda compôs uma incrível ópera-rock cujas faixas fugiam da convencional estrutura de verso-ponte-refrão. A narrativa por trás dos personagens e a sequência perfeita de sentimentos provocados pelos ritmos fizeram do álbum um dos mais importantes da geração atual. Repetir o sucesso depois disso teria sido algo sobrehumano e talvez os próprios integrantes soubessem disso.
O álbum posterior, 21st Century Breakdown, foi lançado cheio de expectativas, mas não correspondeu. E a trilogia ¡Uno!, ¡Dos! e ¡Tré! pegou todo mundo de surpresa. Os discos continham faixas incríveis, mas a mudança de postura da banda, uma marca do trabalho do trio, lançada em três álbuns e de maneira tão rápida, foi algo duro de digerir até mesmo para o mais aficcionado entre os fãs.
De lá pra cá, a vida e obra do grupo foi uma opera-rock difícil de narrar até mesmo por BJ, Mike e Tré Cool. Problemas com pílulas e bebida fizeram Billie Joe ser protagonista de um papelão no festival iHeart e ir parar na rehab, enquanto Mike Dirnt, logo depois, enfrentaria o drama e a notícia do câncer de sua esposa. Jason White, guitarrista de apoio em shows da banda, também enfrentaria um câncer, e tudo fluindo ao som de “Misery”, faixa do icônico Warning.
Mas quatro anos depois de seu último trabalho, “Bang Bang” foi ao ar junto com a promessa de uma banda que é cheia de credibilidade com datas. Revolution Radio, o novo álbum, será lançado em 7 de outubro e o seu single já deu as caras logo em agosto, para deixar os fãs mais que eufóricos.
Em entrevista recente à Rolling Stone americana, Billie Joe Armstrong contou um pouco sobre tudo que envolve o novo trabalho: provocações, protestos e principalmente a volta às origens. E para quem torce a sobrancelha, o single vem como ótimo material de propaganda.

Em entrevista recente à Rolling Stone americana, Billie Joe Armstrong contou um pouco sobre tudo que envolve o novo trabalho: provocações, protestos e principalmente a volta às origens.
Billie Joe também conta ao entrevistador o plano de fundo da faixa. “Bang Bang” vem com o ponto de vista de um mass shooter. O vocalista confessa que tentar entrar na mente de um para escrever o levou à insanidade em poucos segundos, mas que é justamente nessas feridas que o novo álbum vem para mexer. E para deixar tudo ainda melhor e aumentar ainda mais as expectativas, Revolution Radio é um álbum produzido pela própria banda, trancada em estúdio.
Mais uma vez, Green Day vem com a intenção de quebrar suas próprias regras e regar sua carreira com sua própria atitude anarquista. Nesse ponto, “Bang Bang” vem como uma excelente notícia desde o lançamento de California e, como dito no título, soa mais importante para a banda do que para os fãs.
O single veio para mostrar um novo bom-e-velho Green Day que conhecemos, que superou todas as adversidades de suas vidas pessoais para tentar se superar novamente em estúdio. E mesmo que Revolution Radio não alcance o mesmo patamar ou maestria de American Idiot, já pode ser considerado um dos trabalhos mais importantes da carreira do grupo: se Dookie os lançou e American Idiot os consagrou, Revolution Radio pode ser o renascimento de uma banda que se tornou lendária por quebrar as regras, especialmente as próprias.
Nesse ponto, “Bang Bang” é mais que um tiro certo na hora certa. É a marca de que uma das bandas mais importantes da nova geração do rock não está a fim de abrir mão do seu espaço conquistado com muito sangue, suor e acordes velozes e que eles finalmente voltaram a se encontrar dentro de sua própria música.