Nas últimas semanas escutei dois discos de rock, ambos lançados no dia 29 de janeiro, de bandas britânicas que gosto bastante e que deveriam ser relevantes para suas cenas. Apenas um deles cumpriu o papel, no entanto, e isso diz algo sobre a situação atual do rock alternativo que, como já comentei em textos anteriores, tem atualmente sua chama mais brilhante em cenários pequenos do hardcore.Os discos que ouvi foram HYMNS, do Bloc Party e Promise Everything, do Basement.
O Bloc Party foi uma das bandas mais legais do indie rock na década passada. Silent Alarm (2005) é dos discos obrigatórios em qualquer playlist indie até hoje. Depois de três bons álbuns, a banda entrou em hiato e voltou em 2012 com Four, um disco de razoável para baixo, e agora lança seu quinto trabalho de estúdio, o fraco HYMNS. Em uma mistura estranha com a música eletrônica, o Bloc Party se afunda de vez no limbo das ótimas bandas da década passada que hoje esquecemos facilmente.
Do outro lado, o Basement é uma banda relativamente nova que volta com status de experiente após um hiato de três anos. O grupo britânico lançou dois ótimos discos em 2011 e 2012 e abandonou os palcos para que cada membro cuidasse da sua vida pessoal. Nesse período, o vocalista Andrew Fisher virou professor e seu irmão mais novo Andrew, que toca bateria, terminou a faculdade. Com o guitarrista Alex Henery morando nos Estados Unidos e todo o resto da banda na Inglaterra, o grupo resolveu voltar a compor mesmo em continentes diferentes.
Promise Everything foi quase todo feito com Henery gravando as guitarras em um país e o resto da banda tocando em outro. A distância e o amadurecimento dos integrantes soam bem nas dez faixas que compõem o álbum, que já é provavelmente o melhor disco de rock deste começo de ano.
O Basement vem na leva de grandes novas bandas da cena hardcore movida por selos como Run For Cover e Topshelf. Assim como boa parte das bandas do movimento, as inspirações são dos anos 90 e começo dos anos 2000, como o Sunny Day Real Estate e o At the Drive in (que também está voltando). Mas no caso destes britânicos, o som ganha algumas influências do grunge, visíveis especialmente no segundo álbum, Colourmeinikindness (2012). O novo trabalho da banda, no entanto, é o mais leve e menos focado no nicho do hardcore de todos até agora, mesmo ao manter faixas com cara de noise-rock, como “For You the Moon”.
A distância e o amadurecimento dos integrantes soam bem nas dez faixas que compõem o álbum.
Enquanto o Bloc Party tenta sobreviver em 2016 com sintetizadores e reverbs, que fazem o som original da banda parecer genérico, para a garotada de bandas como o Basement as guitarras soam atuais, assim como soavam para o Bloc Party em 2005 com “Helicopter”. E é isso que faz a cena hardcore crescer tanto em uma época em que ela deveria parecer tão ultrapassada. O grande The World Is a Beautiful Place & I am No Longer Afraid to Die lançou um grande disco ano passado e acaba de soltar um single digno de palmas e o Turnover prepara um EP para os próximos dias meses depois de lançar um ótimo disco. É efervescente e cheio de bandas que se unem para sair tocando por aí, sem grandes eventos e produções, apenas grandes músicas.
Com três discos e sete anos depois da banda ser formada, o Basement já é quase um veterano nessa cena, e a sua volta com mais um ótimo disco mostra que eles realmente são bons e têm algo grande e atual para mostrar.