Quando o duo francês Air anunciou uma turnê tocando Moon Safari (1998), seu disco de estreia, na íntegra, não faltaram fãs brasileiros empolgados. Há quase uma década sem tocar em solo nacional, seria a oportunidade perfeita de reencontrá-los. Seria, não fosse o fato de que o duo, formado por Nicolas Godin e Jean-Benoît Dunckel, tocou em outras capitais da América do Sul, menos no Brasil. A decepção reinaria, não fosse o fato de o Air ter pipocado entre os headliners da edição 2025 do C6 Fest.
Com sonoridade que mistura elementos de ambient, synth-pop e uma pitada de nostalgia dos anos 1970 e 1980, o Air arrebatou público e crítica especializada, tornando-se sinônimo de sofisticação sonora e estética visual marcante. Acrônimo de “Amour, Imagination, Rêve” (amor, imaginação, sonho, em português), segundo os próprios (ainda que já tenham negado a informação no início da carreira), Godin e Dunckel devem promover o momento mais etéreo do festival ao apresentar suas composições.
Chega a ser impensável a existência de artistas como Daft Punk e MGMT sem a criação do Air – nem mesmo o fato de que o duo tenha se concentrado mais em projetos individuais na última década diminui seu legado.
Origem, ascensão e ‘Moon Safari’
Antes de unirem forças, Godin e Dunckel trilharam caminhos acadêmicos diferentes. Nicolas estudou arquitetura, enquanto Jean-Benoît se dedicou à matemática. Ainda na fase pré-Air, integraram a banda Orange, até que, em 1995, criaram o duo, cujo nome reflete a leveza e a atmosfera etérea de suas composições.
O EP Premiers Symptômes (1997) foi a estreia oficial da dupla francesa, uma mescla de singles criados entre 1995 e 1997. Sua abordagem minimalista e melódica chamou a atenção, mas seria Moon Safari o marco que redefiniria os contornos da música eletrônica da época – e o deles.
Citado frequentemente como um dos discos mais importantes da música eletrônica moderna, o registro mesclou sintetizadores vintage com melodias suaves, criando uma sonoridade que evocava tanto nostalgia quanto inovação. Era como se unissem Jean-Michel Jarre a Serge Gainsbourg, uma viagem cósmica repleta de melodias cativantes e arranjos luxuosos. Com faixas como “Sexy Boy” e “All I Need”, a aclamação da crítica foi quase unânime, consolidando o Air como um dos principais expoentes do gênero.
Colaborações e expansão artística
O sucesso de Moon Safari, que deve render um dos momentos mais icônicos da ainda curta trajetória do C6 Fest, logo tornou o Air a espinha dorsal para projetos ambiciosos. Foi assim que catapultaram a trilha sonora de As Virgens Suicidas, estreia de Sofia Coppola na direção, não apenas ampliando seu alcance, mas também reforçando a capacidade deles de criar atmosferas sonoras que complementam narrativas visuais de maneira única.
Chega a ser impensável a existência de artistas como Daft Punk e MGMT sem a criação do Air.
Foi assim também com City Reading (Tre Stori Western) (2003), trabalho conjunto com o autor italiano Alessandro Baricco, uma mescla entre paisagem sonora e declamação de seu livro City (editora Rocco, 2002); ou em Music for Museum (2014), trabalho comissionado para o Palais des Beaux-Arts de Lille, parte do projeto Open Museum organizado pela instituição.
Ao longo dos anos, o Air continuou a explorar e expandir seu universo musical com lançamentos como 10 000 Hz Legend (2001), Talkie Walkie (2004) e Pocket Symphony (2007). Cada LP trouxe novas texturas e influências, desde experimentações com vocoders até incursões pela música oriental, demonstrando a versatilidade e a constante evolução artística da dupla – cujo último inédito data de 2012.
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O C6 Fest de 2025 acontece entre os dias 22 e 25 de março, no Parque Ibirapuera. Com Air, The Pretenders e Wilco liderando o festival, nomes como Amaro Freitas, Nile Rodgers, Gossip e Mulatu Astatke também subirão aos palcos. A Escotilha estará na cobertura e, nos próximos dias, apresentará os artistas, dando um panorama do que o público brasileiro deve esperar dos shows.
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