Desde que a turnê “Infinite Content” começou, muito se falou sobre shows vazios, arenas com sequer metade dos ingressos vendidos, e lentamente foi sendo construída a ideia de que o Arcade Fire não estaria entregando o que prometeu. No Rio de Janeiro, o show foi anunciado há alguns meses e programado para ocupar o espaço da Jeunesse Arena, na Barra da Tijuca, onde normalmente são os espetáculos de grande porte ou megalomaníacos. Há poucas semanas, devido à grande quantidade de ingressos ainda por vender, foi realocado para a Fundição Progresso, na Lapa, espaço conhecido pelos locais por sua acústica um tanto quanto problemática, de menor capacidade e mais fácil acesso, pelo menos.
Impressiona a capacidade e a destreza que o Arcade Fire tem em fazer ao vivo aquilo que sabemos que é fruto de muita produção musical.
Não era problema comprar ingressos na hora, mas apesar da venda ter prosseguido até a hora do show, a Fundição estava lotada. Parecia que todo mundo havia tomado a decisão de ir no show no último momento, talvez com medo de que eles repetissem o feito da última turnê que passou pelo Rio de Janeiro e fizessem uma grande apresentação. Estávamos todos enganados. [highlight color=”yellow”]O que o Arcade Fire apresentou na noite de ontem superou em muito o que eles apresentaram por aqui em 2014[/highlight], mesclando num setlist músicas de todos os álbuns numa produção cuidadosa e caprichada.
A banda entra no palco, que simula pelos primeiros momentos de show um ringue de box, como se fossem lutadores, inclusive foram anunciados por um locutor – em português – como os pesos pesados do indie, enquanto a Fundição vinha abaixo em gritos e aplausos. Assim que subiram no palco, já começaram retribuindo o fervor do público com “Everything Now”, faixa-título e música de trabalho do último disco da banda.
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Impressiona a capacidade e a destreza que o Arcade Fire tem em fazer ao vivo aquilo que sabemos que é fruto de muita produção musical. A voz e o carisma de Win Butler, somados ao verdadeiro prodígio que é Regine – que canta, toca diferentes teclados, bateria e num momento chega a cantar e tocar garrafas de vinho – são um espetáculo à parte. A banda toca mais de 2h direto, e fez questão de incluir faixas de seus álbuns anteriores, como “Reflektor”, “No Cars Go”, “The Suburbs” e “Neighborhood”.
Do disco novo, foram “Signs of Life”, “Creature Comfort”, “Peter Pan”, “Put Your Money on Me” e “Eletric Blue”, tudo harmonizado com um show de luzes e imagens que não fica nada atrás de grandes nomes do rock. O bis foi um dos pontos altos do show, quando a banda voltou de um breve intervalo com uma versão instrumental diferente de “Everything Now” e logo emendou em “Rebellion (Lies)”.
A maneira como a banda foi anunciada e o ar de galhofa presente em “os pesos pesados do indie” na verdade, foi a maior verdade da noite. O Arcade Fire fez um show absolutamente perfeito, tocou e compartilhou com o público um momento ímpar, o que quer dizer também que tudo que veio sendo propagado sobre a turnê é mentira. Talvez a banda não seja capaz de lotar grandes arenas e estádios, mas tem plena capacidade de encher de fãs apaixonados espaços relativamente grandes e emocionar com um espetáculo de primeira categoria.