Talvez o ideal fosse o Muse ter acabado há algum tempo, provavelmente ali depois do álbum Black Holes and Revelations, que já não é seu melhor trabalho, mas que ainda assim possui boas faixas. O que veio depois foi ficando cada vez mais ralo, menos complexo e acabou colocando em evidência que há artistas que definitivamente não sabem a hora de parar.
Antes de olhar com atenção o último single da banda, há que se fazer uma justa volta no tempo. O primeiro álbum da banda foi lançado em 1999. Apesar de ainda estar a milhas do som polido e sofisticado que chegaria a fazer nos álbuns que se seguiram, Showbiz é cru, possui dois hits absolutamente instantâneos, “Sunburn” e “Muscle museum”, que são coincidentemente as duas primeiras faixas do disco, e uma sequência que não soa tão inspirada, mas que definitivamente mostra o potencial da banda.
Misturando harmonizações com vocais agudos e a personalidade de Matt Bellamy, o Muse foi ganhando terreno até se firmar como um dos maiores power trios do início dos ano 2000. Com seus shows que foram ficando cada vez maiores e lotando estádios ao redor do mundo com facilidade, a banda chegou a vir ao Brasil em três momentos diferentes, com produções que foram gradativamente maiores e mais espetaculares.
Chega a ser difícil de associar a balada com toques eletrônicos à banda que ficou famosa por possuir três integrantes que sempre se excederam em seus instrumentos e cuja técnica sempre foi exemplar.
Porém, se Bellamy e companhia foram capazes de gravar o grandioso Origin of Symmetry e o não menos importante Absolution entre 2001 e 2004, além de terem lançado um disco ao vivo nesse meio tempo, todos devidamente acompanhados de faixas de trabalho que atestavam a qualidade indiscutível da banda, era de se esperar que, ao menos, eles soubessem quando o material produzido se encontrava aquém do que ficou caracterizado como sendo o som da banda. Após o lançamento de Black holes e revelations, um álbum já claramente inferior aos seus antecessores, a banda mergulhou num labirinto que parece apenas se aprofundar a cada faixa de trabalho que pipoca na mídia.
Depois de uma trilha sonora melosa e cheia de clichês feita para a série cinematográfica Crepúsculo, a banda começou a produzir um som que, na melhor das hipóteses, soa como um pastiche ruim de si mesma. Os elementos eletrônicos, que passaram a integrar a rotina sonora da banda com cada vez mais intensidade a partir de 2006, hoje soam como se fosse inseridos apenas para distrair da ausência de conteúdo que a banda foi capaz de atingir.
Há alguns dias, a banda lançou mais um single, “Something human”. A música nem de longe lembra o Muse dos anos 2000, cheio de energia e pouca frescura, que não hesita em montar verdadeiras gambiarras no palco para conseguir um resultado que soasse impressionante para o público. Chega a ser difícil de associar a balada com toques eletrônicos à banda que ficou famosa por possuir três integrantes que sempre se excederam em seus instrumentos e cuja técnica sempre foi exemplar.
Infelizmente, nem todas as bandas que um dia foram grandes sabem a hora de parar. É o caso do Muse. É melhor aceitar e fazer uma viagem no tempo ao início dos anos 2000, quando o Muse era, sem dúvida, uma grande banda, e não a sombra que se tornou hoje.