O jazz é uma linguagem própria, uma conversa, um organismo vivo. É um daqueles gêneros que tem facilidade em se adaptar e fundir com outras sonoridades. Quanto mais diversa a bagagem do jazzista, mais isso transparece na sua música. E é justamente a diversidade que dá aquele tempero a mais para a mistura de técnica, improviso e sentimento que forma a base do DNA do jazz.
É seguro dizer que essa década tem sido uma das mais prolíficas para o gênero a nível global. Uma nova safra de músicos ávidos por experimentar e expandir fronteiras musicais se juntou a um interesse renovado dessa geração pelo jazz — qual dos dois veio antes, pouco importa, o importante é o resultado.
Separamos aqui uma lista com três trompetistas que representam um pouco do que há de melhor atualmente nessa cena em toda a sua versatilidade.
Takuya Kuroda
É seguro dizer que essa década tem sido uma das mais prolíficas para o gênero a nível global.
Post-bop, neo-soul e eletrônica formam a base do som de Takuya Kuroda. O trompetista nasceu em Kobe, no Japão, e começou seus estudos em música por lá mesmo, ao mesmo tempo em que tocava em big bands com seu irmão mais velho. Mais tarde se mudou para os Estados Unidos, onde ingressou na conceituada Berklee College of Music, e hoje mora em Nova York.
Essa trajetória transparece na sua música, um jazz suingado e descontraído, com forte acento rítmico e influências de soul. Seu último álbum, Zigzagger (2016), é um bom ponto de partida para explorar a discografia do músico japonês. Nele se sobressaem um pouco mais os elementos eletrônicos, que contribuem para dar um novo colorido ao som de Kuroda, e há um bom equilíbrio entre faixas dançantes e outras mais despojadas, boas para ouvir naquele finalzinho de tarde pós-expediente.
Christian Scott aTunde Adjuah
Christian Scott aTunde Adjuah, trompetista nascido e criado em Nova Orleans, teve um 2017 bastante prolífico. Ao longo do ano, ele lançou três discos que abrangem um espectro sonoro bem amplo dentro do gênero — uma forma de prestar homenagem ao jazz no ano de seu centenário.
O resultado é colossal. É possível encontrar traços de música latina, afrobeat, hip hop, música eletrônica e tantas outras vertentes que derivaram e incorporaram elementos do jazz ao longo dessas décadas. Esses discos são um verdadeiro atestado da influência, versatilidade e constante evolução do gênero.
Vale destacar que, além de ser um dos trompetistas mais expressivos dessa geração, Christian Scott tem um grande trunfo que o destaca de tantos outros artistas: a forma com que trabalha texturas sonoras. Ruler Rebel, Diaspora e The Emancipation Procrastination são uma verdadeira aula de como criar ambiências e diferentes moods.
Ibrahim Maalouf
Ibrahim Maalouf nasceu em Beirute, no Líbano, mas cresceu em um subúrbio de Paris — sua família foi uma das tantas que deixou seu país de origem por causa da guerra. Filho de um trompetista e uma pianista, ele sempre teve contato com a música. Aos sete anos de idade, começou a aprender trompete com o pai e dois anos mais tarde já o acompanhava em apresentações pela Europa e Oriente Médio, tocando música barroca.
Esse desenvolvimento musical precoce explica um pouco do approach do trabalho de Maalouf. Se fosse para escolher um adjetivo para descrever suas músicas, “grandioso” seria o ideal. Suas composições são expansivas, quase cinematográficas, e conseguem sedimentar com naturalidade a fusão entre a música árabe, eletrônica, jazz, funk e rock. Vide “Essentielles” e “Red & Black Light”, faixas nas quais guitarras distorcidas se alternam com o trompete de Maalouf, que gravita constantemente entre o frenesi e a melancolia.