O ano era 1969. Marianne Faithfull estava há seis dias em coma. Havia tomado 150 comprimidos de um sedativo e depois tentado se jogar pela janela do quarto do hotel onde estava hospedada na Austrália. Quando abriu os olhos, ainda no hospital, Mick Jagger estava ao seu lado e disse: “Você voltou. Eu achei que a tivesse perdido”. Marianne respondeu: “Os cavalos selvagens não conseguiriam me arrastar.”
Assim nasceu “Wild Horses”, uma das canções dos Rolling Stones. Uma das mais belas deste planeta, eu diria. Perceber, no vídeo que está nesse texto, a emoção (ou que seja outro sentimento, de todo modo perturbador) que toma conta de Mick, a deixa ainda mais intensa. Não sei sobre os outros, mas esqueça Keith Richards no vídeo. Ele está muito chapado para sentir algo mais do que um grande barato.
Se nós achamos que já vivemos um amor tenso, intenso e até destruidor, em algum momento da vida, imagine como deve ser um “amor rock’n’roll”. Uma coisa é você ir a um show com o seu amor, curtir uma trilha sonora que parece ter sido feita sob medida para você e seu par. A outra é amar, e tentar viver, com quem passa boa parte da vida em aviões e palcos.
E o que seria pior? Somente um sendo músico e o outro não? Ou ambos vivendo da música? Acho que a primeira opção é uma questão de escolha. Toda esposa ou esposo de alguém que seja do universo da música sabe (ou pelo menos deveria saber) em que terreno está pisando. Sabe que pode ter aborrecimentos e surpresas desagradáveis do tipo “querida, tenho uma amante – querida, virei um junkie.” Agora, quando um casal é formado por músicos (roqueiros, de forma mais específica), creio que a tensão seja maior. Ambos podem achar que podem tudo, que têm o poder da sedução, que todos estão ali, à disposição, incluindo todo tipo de droga, além das groupies de plantão. Aliás, não sei qual o masculino de groupie. Se souber, diga-me, por favor.
Todas essas questões vieram à mente depois de ler Rock’n’Roll Love Stories – True Tales of the Passion and Drama Behind the Stage Acts (sim, foi proposital terminá-lo próximo ao Dia dos Namorados). A obra (sem edição traduzida para o Brasil) é de uma escritora chamada Gill Paul. Nunca tinha ouvido falar dela.
Foi o título que me chamou a atenção quando comprei. Depois de uma rápida pesquisa, descobri que Gill gosta de escrever sobre histórias reais de amor – dos affairs em sets de filmagem, de casais em lua de mel, das cartas trocadas entre namoradas e seus namorados que estavam na 1ª e 2ª Guerra Mundiais. Achei o nicho interessante.
Debbie Harry e Chris Stein viveram, além da paixão e do vício pelas drogas, a doença. Quando se conheceram em 1973 eram só amigos. Como havia um ex-namorado pegando no pé de Debbie, ela aceitou que Chris andasse com ela para baixo e para cima, em plena Nova York. Nessa época, a loira cantava no The Stilettos (há poucos registros em vídeo, mas aqui vai um).
Se nós achamos que já vivemos um amor tenso, intenso e até destruidor, em algum momento da vida, imagine como deve ser um “amor rock´n´roll”.
Em 1974, quando formaram o Blondie, Debbie e Chris já eram um casal. Nunca foi algo tempestuoso. Sem quartos de hotel destruídos e garrafas quebradas. “Ele é tranquilo quando estou loqueando e vice-versa”, diria a loira. O problema é que ambos foram loucos pela heroína.
Em 1982, quando a banda lançou o último disco “The Hunter”, além de sofrer com o vício, Chris foi diagnosticado com vésico-bolhosa crônica, doença rara e de natureza autoimune. Por quatro anos, Debbie parou com tudo e cuidou de Chris. No começo dos anos 1990, o casal se separou. Debbie tornou-se madrinha dos filhos que não teve com Chris. E ela continua dizendo que eles tiveram uma grande sorte de ter um ao outro e poderem viver uma grande aventura.
Além das histórias de Marianne, Nick, Debbie e Chris, há outras no livro, tão intensas quanto. Quase todas cheiram à pólvora. Mas, ao final, vem um pensamento – poxa, tem rock, tem glamour, tem fúria, mas também tem o mesmo lado “mortal” que nós temos. Tem a dor, a angústia e a vontade de lutar para que as coisas se resolvam. Tem saudade, tem choro. E às vezes, tem morte.
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