O primeiro semestre de 2017 já provou que esse ano veio recheado de lançamentos musicais bem relevantes. Kendrick Lamar, Drake, Paramore, Mastodon, Harry Styles, Mac Demarco, Joey Bada$$, Father John Misty… Esses são apenas alguns dos artistas que lançaram trabalhos novos recentemente. E ainda tem muita água para rolar – em breve, também teremos novidades da Lorde e Queens of the Stone Age, por exemplo.
Porém, no meio de tanta coisa nova, algumas pérolas escapam do nosso radar. Por isso, reunimos cinco grandes álbuns lançados esse ano e que podem ter passado despercebidos – todos estão disponíveis no Spotify, aliás.
OBS: Japanese Food, de Giovanni Cidreira (não entrou na lista porque já ganhou uma bela resenha aqui n’A Escotilha), DAMN., de Kendrick Lamar (que já foi ovacionado pelo mundo inteiro), e This Old Dog, de Mac Demarco (esse também já é uma figura mais carimbada), merecem menção honrosa.
‘Brutalism’ – IDLES
Agressivo, ácido, sarcástico, são todos adjetivos que casam perfeitamente com o som praticado pelo quinteto de Bristol. Quem é fã do punk inglês vai achar um prato cheio em Brutalism. São 40 minutos de um post-punk conciso que faz jus à expressão “pedrada sonora”.
A cozinha do álbum é absurdamente eficiente. A bateria rege o ritmo frenético e mecânico das faixas com precisão, enquanto o baixo faz a liga com o trabalho das guitarras – que gravita entre riffs agressivos, flertes com o noise e ambiências. No entanto, o destaque fica para as letras e performance vocal de Joe Talbot.
Ele soa absolutamente desprezível e selvagem durante o álbum inteiro, despejando com sua voz rouca comentários ácidos sobre todo tipo de tema imaginável. Bem, basta ver parte da letra de “White Privilege”: “quantos otimistas são necessários para trocar uma lâmpada? Nenhum! O mordomo deles que troca a lâmpada”.
‘Process’ – Sampha
Mais um britânico, mas esse vai na direção oposta do IDLES. Sampha é um cantor, produtor e compositor que já trabalhou com nomes como Solange, Kanye West, Frank Ocean e Drake. Dono de uma voz extraordinária, sensibilidade aguçada e um inegável talento para produção musical, Sampha mistura eletrônica, R&B e soul no seu álbum de estreia.
As canções fogem de estruturas óbvias e carregam uma melancolia latente durante as 10 faixas. Dos arranjos sutis e atmosféricos de “Plastic 100ºC” e “What Shouldn’t I be?”, ao ritmo pulsante “Blood on Me”, Sampha impressiona por sua maturidade e produção elegante.
‘Antiphon’ – Alfa Mist
O Reino Unido está com tudo esse ano. Outro britânico, diretamente de Londres, Alfa Mist pode se tornar um dos grandes expoentes do jazz contemporâneo – se for levar em conta a qualidade de seu trabalho.
O seu flerte entre hip-hop, jazz e soul lembra em alguns momentos um BADBADNOTGOOD mais encorpado. Os arranjos são intrincados e constroem um ambiente sóbrio e aconchegante – também há momentos expansivos, mas são mais raros. Os momentos que incorporam vocais também dão um colorido a mais para o álbum – como na soturna e atmosférica “Breathe”. Ideal para se ouvir de madrugada.
‘Rocket’ – (Sandy) Alex G
O norte-americano Alexander Giannoscoli, ou apenas Alex G, é um músico versátil e prolífico. Ele começou sua carreira em 2010, gravando álbuns por conta própria e os lançando no Bandcamp. Sete anos e sete álbuns depois ele já se aventurou por vários gêneros musicais. No começo, ele seguia uma fórmula baseada apenas no violão e voz, hoje, acompanhado de banda, parece não ligar para limites.
Propositalmente fragmentado, Rocket passeia pelo folk, country, noise, rock, experimental, eletrônica e pop. Elliot Smith, Nirvana e Frank Ocean são algumas das influências que aparecem nas 14 faixas do álbum. É uma obra cheia de curvas inesperadas e incrivelmente consistente em termos de qualidade musical.
‘A Saga do Cavaco Profano’ – Machete Bomb
Senhoras e senhores, diretamente de Curitiba, lhes apresento a Machete Bomb. Se Rage Against The Machine resolvesse trocar a guitarra pelo cavaquinho e chamasse o Planet Hemp para fazer um EP, acho que o resultado seria muito próximo de A Saga do Cavaco Profano (leia aqui nossa crítica do disco).
Com agressividade na medida e um flow que mistura Marcelo D2 e Zack De La Rocha, a Machete Bomb apresenta um trabalho recheado de energia e muito groove. É com certeza uma das bandas mais originais atualmente em atividade no Brasil – e já cravou seu lugar na minha lista de melhores do ano.