Metalcore é um gênero normalmente um pouco discriminado. Parece às vezes aquele rock pesado que você escuta, mas tem um pouco de vergonha, que acha que se ouvir por mais de duas horas sem parar vai ter que, obrigatoriamente, deixar o cabelo crescer e agir de um jeito meio dramático. É a vertente mais pesada do emocore, tem guitarras fortíssimas, velocidade e vocais gritados misturados com partes suaves. Por isso, muitas bandas caem no clichê quando fazem metalcore e soam como paródias de todas as outras da cena. Guitarra rápida, gritaria, vocal melódico no refrão, mais gritaria, guitarras a todo vapor e pronto. É um desses gêneros que parecem ter uma receita. Bandas que escapam do clichê, obviamente, destacam-se.
Um dos destaques da cena há alguns anos, o Pierce the Veil conseguiu com seu novo disco sair da lista de “ótimas bandas de metalcore e post-hardcore” para poder ser, sem dúvidas, uma grande banda de rock atual. O grupo de San Diego tinha três ótimos discos com grandes músicas, a fama de ter alguns dos melhores riffs de guitarra da cena de rock underground e o vocal pulsante de Vic Fuentes. Com Misadventures (2016), no entanto, eles quebraram a barreira do gênero em um dos melhores discos de rock do ano até agora.
O Pierce the Veil consegue te levar para onde quiser, cada transição parece, ao mesmo tempo, surpreendente e intuitiva. É um disco viciante.
O quarto disco do Pierce the Veil é um prato cheio pra quem gosta de músicas fortes para ouvir alto e fingir tocar bateria ou guitarra no ar. É uma pancadaria de qualidade do início ao fim em suas 11 faixas. Eles transitam por vertentes, desde o próprio metalcore acelerado de “Texas is Forever” e “The Divine Zero” – grande single do álbum, que concorre a melhor música do ano no prêmio mais focado da cena, entregue pela revista Alternative Press – até um lado mais pop-punk como em “Bedless” ou na mais radio friendly do disco, a ótima “Circles”, inspirada nos ataques terroristas em Paris ano passado. Foi bem com “Circles” que o Pierce the Veil fez sua estreia em talkshows norte-americanos, no programa do Conan O’Brien, com direito a gritos da plateia durante as explosões de guitarras.
https://www.youtube.com/watch?v=qZ9ZAAx3aIU
Misadventures redesenha a história do Pierce the Veil e os coloca em um novo patamar. Quando lançaram Collide With the Sky em 2012, eles estouraram na cena hardcore com o hit “King for a Day” – até hoje a música de maior sucesso da banda – para quatro anos depois, então, lançarem seu melhor disco até hoje. Cada faixa de Misadventures é boa, todas têm seus pontos fortes e empolgam. O disco não freia por um segundo e entrega boas canções atrás de boas canções. Belas letras, grandes melodias e uma maneira de carregar as músicas que parece muito própria dos irmãos Vic e Mike Fuentes e do guitarrista Tony Perry. O Pierce the Veil consegue te levar para onde quiser, cada transição parece, ao mesmo tempo, surpreendente e intuitiva. É um disco viciante.
A banda consegue trazer um certo ar teatral ao disco, com mudanças dramáticas e intensas, mas muito longe de parecer brega. É como um teatro punk subversivo. Um espetáculo onde todos os atores quebram o cenário no fim. Se há uma banda na cena que atualmente pode colocar algum fogo no meio do rock fora de seus nichos, é o Pierce the Veil. Das raízes pesadas eles conseguiram sugar toda a técnica instrumental, aliaram a letras fáceis de acompanhar, vocal emotivo e muita potência. O resultado é um disco digno de todo o destaque.