Dia 1o de setembro o suspense finalmente chegou ao fim. Depois de um hiato de pouco mais de seis anos, o LCD Soundsystem finalmente voltou à ativa com o lançamento de American Dream. Para além das duas faixas que a banda havia divulgado previamente esse ano, o álbum traz mais oito, todas devidamente inéditas.
Sempre existiu algo no som do LCD Soundsystem que agradava a todos indistintamente, e não estamos falando aqui da mistura bem-sucedida de rock, dance e punk. Havia algo na melancolia das letras que, desde muito antes de a internet ser dominada por uma enxurrada de artigos sobre como “os millenials destruíram seja-lá-o-que-for”, já anunciava que os anos 2000 seriam muito mais de perdas do que de ganhos.
Em uma entrevista concedida certa vez, James Murphy afirmou que o LCD Soundsystem era [highlight color=”yellow”]“uma banda sobre uma banda escrevendo música sobre escrever música”[/highlight], e por mais enigmático que possa parecer o jogo de palavras, isso expressa exatamente o que faz o LCD Soundsystem. Na esteira da desilusão, James Murphy faz música dançante com nossas tristezas cotidianas, escreve músicas sobre como é difícil escrever músicas, simultaneamente bálsamo e veneno para fazer com que esqueçamos o caminho que o mundo vem tomando.
Na esteira da desilusão, James Murphy faz música dançante com nossas tristezas cotidianas, escreve músicas sobre como é difícil escrever músicas, simultaneamente bálsamo e veneno para fazer com que esqueçamos o caminho que o mundo vem tomando.
American Dream não poderia ser diferente. A primeira faixa, “oh baby”, expressa bem o sentimento que se tornou a tônica nos anos de ausência da banda. A voz de Murphy, flertando com Brian Eno (como sempre), abre American Dream com os versos: “Oh baby/Oh baby/You’re having a bad dream/Here in my arms”.
Desse ponto em diante, o álbum vai mergulhando cada vez mais fundo na temática do fim. Todas as letras, de alguma maneira, [highlight color=”yellow”]convergem para esse mesmo pano de fundo[/highlight], por mais que estejamos aqui falando do renascimento de uma banda que programou seu fim e se apresentou como se jamais fosse se reunir novamente.
O sonho americano do LCD Soundsystem morreu, e o disco fala exatamente sobre isso: “I’ve just got nothing left to say/I’m in no place to get it right/And I’m not dangerous now\The way I used to be once/I’m just too old for it now/ At least that seems to be true”, canta Murphy em “change yr mind”. Por mais que as batidas e as guitarras da banda continuem afiadas da maneira como todos esperavam, é possível afirmar sem dúvida que American Dream consegue ser mais triste e melancólico que seu antecessor, o aclamado This is happening.
Por mais que seja difícil dizer que alguma faixa do álbum é um ponto alto, talvez porque cada uma carregue sua individualidade ao mesmo tempo que dialogam entre si, American Dream é um disco de temática coesa, bem amarrada e explora os sintetizadores como critério ao longo de sua uma hora de duração. A já conhecida “call the police” acaba funcionando como um contraponto solar, graças à atmosfera da faixa como um todo. “call the police” é ainda mais do que isso contra o pano de fundo de American Dream, é um hino sobre como não perdemos tempo com nada, sobre como criamos monstros, sobre como somos todos idiotas e não fazemos a menor ideia do que estamos fazendo.
Um dos méritos de American Dream não é apenas estar alinhado com o roteiro apocalíptico que se tornaram os anos 10, mas não perder a força conforme se aproxima do final. “emotional haircut” consegue aliar tudo que o disco mostra de melhor, seja o uso das guitarras, as letras e a voz característica de Murphy. Tudo na música é acerto. “black screen”, a faixa que encerra o disco, é a única que pode soar como um ponto fora da curva. Mais soturna que o restante do álbum, aparentemente a música foi composta por Murphy para homenagear David Bowie, que era seu amigo e colaborador, e que não viveu para ver o retorno do LCD Soundsystem: “I owe you dinner, man/I owe you something/You talked to me/Like I was inside”, Murphy canta em sua performance mais contida em todo o álbum.
A verdade é que American Dream vale a audição, vai satisfazer os fãs que tanto lamentaram o fim da banda em 2011, críticos e, quem sabe, angariar novos ouvintes. James Murphy já prometeu que não fará mais concertos de despedida, e com isso esperamos que ele se mantenha na ativa, seja à frente do LCD Soundsystem ou de qualquer outro projeto.