Willow acaba de completar 17 anos, mas mesmo assim já a acompanhamos há bastante tempo. A filha dos astros Will Smith e Jada Pinkett Smith ainda é conhecida por muitos pelo seu hit pop “Whip My Hair”, que ela lançou aos 10 anos. Porém, nesses sete anos ela já mostrou diferentes facetas e nos surpreende mais uma vez com seu segundo e ótimo disco, The 1st.
Depois de seu sucesso bate-cabelo, Willow lançou coisas bem distintas: a intensa “Fireball”, ao lado de Nicki Minaj; a balada triste “I Am Me”; o ótimo EP 3, que tem um musicão ao lado da SZA; o ótimo single “F Q-C #7”; e seu disco de estréia, o mediano ARDIPITHECUS, que tem bons singles, como “Why Don’t You Cry”.
A carreira de Willow já passeou por diferentes gêneros, do pop ao hip-hop, do electro ao folk, e [highlight color=”yellow”]nada mais natural se lembrarmos o fato de que a artista ainda é uma adolescente[/highlight]. Uma adolescente que anda no meio de músicos fantásticos, mas ainda uma adolescente como as outras, por isso é latente em seu trabalho como as descobertas e as influências vão moldando as suas novas decisões.
Ela já apresentou covers de Björk e King Krule, ao mesmo tempo em que vira e mexe canta versões quase folk de hits da Rihanna. Esse ano ela fez covers de Joanna Newsom, por exemplo, mostrando claramente que ela está naquela fase em que começamos a conhecer os artistas e ficamos imersos naqueles universos. O mais interessante é como ela consegue emergir disso tudo e apresentar canções realmente maduras e bem construídas com uma assinatura muito própria. Se seu primeiro disco ainda era frágil e não fazia jus a seu potencial, The 1st é a prova de que Willow cresceu e que todo o hype que há séculos colocávamos sobre ela fazia sentido.
Se seu primeiro disco ainda era frágil e não fazia jus a seu potencial, The 1st é a prova de que Willow cresceu e que todo o hype que há séculos colocávamos sobre ela fazia sentido.
Logo ao darmos o play ouvimos violinos e a voz firme de Willow a cantar “hey mom, I met a boy, he plays guitar, he likes Quentin Tarantino and really sad songs”. [highlight color=”yellow”]Essa intimidade quase confessional das canções é que marcará o disco dali pra frente[/highlight], é como se Willow nos convidasse para entrar em sua vida, trocar histórias, compartilhar sentimentos de, como diz o título de uma canção, “an awkward life of an awkward girl”.
Nesse sentido, o disco é recheado de canções realmente fortes e pungentes, como a apaixonada “Human Leech”, com guitarra marcada que remete ao trabalho da Torres. “Warm Honey” é uma linda canção de amor e “And Contentment” é um petardo que termina com os versos “I’m burning, burning on my own feelings / And using the flames to make a new me / To be”. É interessante como o alto nível do álbum segue em sua segunda metade, como na ótima “Lonely Road”, ao lado do duo Chloe X Halle ou na triste (e um tanto existencialista) “A Reason”. O disco fecha com a fortíssima “Romance”, com uma longa letra que fala sobre uma “história diferente”, com igualdade de gênero e liberdade sexual, num mundo mais justo e menos violento.
No todo, The 1st mostra Willow segura enquanto compositora, mas também firme no uso de seu vocal, que caminha por diferentes nuances, mostrando a sua formação mais R&B, porém flertando aqui com diferentes gêneros de forma eficaz, desde o folk até o alt-rock. Além disso, há algo em The 1st que ecoa os discos de Tori Amos, Cat Power e PJ Harvey, lá nos anos 90, acho que por essa confessionalidade e a crueza com que ela expõe seus medos e suas dúvidas.
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Na faixa de abertura, “Boy”, ela diz “he thinks I’m boring ‘cause I come from a cluster of super bright stars”, frase que representa o sentimento do tal garoto da canção, mas que se encaixa perfeitamente no preconceito que sempre rodeia os pequenos Smiths. Willow e Jaden, seu irmão, nunca são devidamente levados a sério. Seus trabalhos geralmente são tratados como brincadeiras de crianças ricas, porém os dois têm produzido canções melhores que muitos adultos do universo pop e isso tem muito a ver com o fato deles serem crianças ricas. Willow poderia ter sido moldada por alguma gravadora e teria lançado outros arremedos de “Whip my hair”, mas sendo rica e adolescente ela pode fazer o que bem entender e tem transformado isso em ótimas canções.
Ouçam The 1st com atenção e com o coração aberto, pois é um lindo disco, que fala muito sobre essas dores e dúvidas da adolescência, aquelas que parecem ser apenas coisas dos hormônios, mas que nos perseguem por toda vida adulta.
Ouça ‘The 1st’ na íntegra no Spotify
https://open.spotify.com/album/6FTJgk4m3lUwCFqlJu7MQZ