20 anos separam o lançamento do engraçadinho Let Go de Love Sux, mais recente álbum da canadense Avril Lavigne. Mas parece que pouco mudou para a cantora.
Seu novo disco é o retrato de um artista estagnado, que opta, cedo demais, em fazer música para os antigos fãs. É bom deixar claro ao leitor que não se trata em hipótese alguma de juízo de valor.
Avril foi sensação do pop punk adolescente em um momento de transição, em que o subgênero já não se encontrava no auge e que o rock era substituído nas paradas das rádios e da MTV. Aliás, Avril Lavigne é fruto desse período, para o bem e para o mal.
Não se nega que a artista tenha sofrido com a cobrança excessiva feita sobre as mulheres na indústria da música, mas é fundamental pontuar que, em 20 anos de carreira, ela teve muita dificuldade de mostrar, verdadeiramente, a que veio.
De todos os discos gravados posteriormente a Let Go, Love Sux é, certamente, o que mais se aproxima de uma continuidade, ainda que Under My Skin seja a sequência cronológica. Contudo, há um problema aqui: Avril faz um pop punk anacrônico, para um público que não necessariamente ainda consome este tipo de som e que não dialoga com as novas gerações.
Há um bom motivo para que não ouçamos mais o Sum 41 ou o Blink-182 como fizemos na segunda metade dos anos 1990: todos superamos aquele momento, ao menos todos exceto Lavigne. E surpreende que nesse aceno à nova geração e aos antigos fãs ela recorra, justamente, a nomes como o de Mark Hoppus e Travis Barker. Seria algo como pedir dicas de tecnologia ao seu avô.
‘Love Sux’ não é ruim, mas anacrônico e esquecível
O quanto é sincero esse desejo da cantora? Ouvindo as 12 faixas de Love Sux, soa pouquíssimo.
Depois de um retorno pouco inspirado com Head Above Water (2019), Love Sux soa como uma nova tentativa de se encontrar. Sob esta perspectiva, é a melhor coisa que o registro oferece.
Porém, quando acompanhamos as entrevistas que a cantora concedeu no período de divulgação do disco, vemos que o retorno ao pop punk não é uma escolha feita com a confiança de que deveria seguir este rumo. Avril Lavigne escolhe o rock por não ter sido escolhida pelo pop.
Acontece que neste intervalo ela abandonou seu público original e agora retorna a ele como num pedido de socorro. Mas, o quanto é sincero esse desejo da cantora? Ouvindo as 12 faixas de Love Sux, soa pouquíssimo.
“Cannonball”, por exemplo, abre numa pegada muito mais acelerada do que o pop punk tradicionalmente faz. É um forte aceno às novas gerações,o mesmo valendo para “Bois Lie”, faixa em que divide espaço com Machine Gun Kelly, nessa confusão entre rapper e punk.
Os riffs de “Bite Me” e “Love Sux” só não são mais genéricos do que as letras das canções, difíceis de se tornarem críveis como letras de amor saídas de uma mulher de 37 anos. É triste que Avril Lavigne não perceba o anacronismo de suas escolhas.
Disco melhora a partir da metade
Love Sux melhora um pouco na metade final do álbum. “Avalanche” foge do pop punk convencional e flerta com o space rock, numa letra que parece minimamente mais palatável.
A tônica segue na faixa seguinte, “Déjà Vu”, uma espécie de diálogo com o espelho, em que Avril cobra que é hora de agir de acordo com sua idade, que é momento de crescer.
O que deveria ser o ponto alto do disco, a faixa que divide com Mark Hoppus, parece mais uma canção do Blink-182 do que da canadense. Parte porque a voz de Hoppus marcou o final da década de 1990, parte porque tudo nela parece, justamente, querer resgatar o que havia nessa fase – afinal, ninguém escolhe Travis Barker como produtor à toa.
Depoisde uma balada também genérica em “Dare to Love Me”, Love Sux encerra com “Break of a Heartache”, deixando claro que a cantora fez más escolhas em sua carreira e, na tentativa de corrigi-las, talvez tenha cometido outro erro.
Não duvido do poder de Lavigne em fazer que seus antigos fãs entre numa espiral saudosista, nem que este texto provoque a ira destes mesmos adoradores. Mas lanço o desafio: por quanto tempo ainda ouviremos falar de Love Sux? Deixo meu palpite: muito pouco.
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