A Onça Discos segue firme no lançamento de bons discos neste ano. Agora, é a vez do primeiro EP dos curitibanos da Doberrot, quarteto semi-instrumental formado por Cristiano Correia (guitarra e voz), Gabriel Muller (baixo e voz), Guilherme Zampieri (guitarra e voz) e Otávio Tersi (bateria).
Gravado ao vivo no Old Black Records, mixado e masterizado por Leonardo Lima, Não Repara a Bagunça é uma mescla de influências e sonoridades, amalgamadas de forma coesa, espalhando introspecção e intensidade em doses equilibradas.
Ainda que Não Repara a Bagunça evoque tons de psicodelia e rock progressivo, é no post-rock que as bases da Doberrot estão solidificadas. O trabalho do quarteto é uma síntese de pequenas colagens sonoras, em alguns momentos até levemente carregadas de minimalismo e improvisação, mas certamente preocupadas em oferecer timbres e melodias em conformidade.
O trabalho do quarteto é uma síntese de pequenas colagens sonoras, em alguns momentos até levemente carregadas de minimalismo e improvisação.
Faixas como “Meu Amigo Imaginário”, segunda do EP, transitam por um certo experimentalismo, uma espécie de reação à rigidez do rock mais tradicional. Não chega a ocorrer, necessariamente, uma ruptura com o paradigma da cena alternativa, mas oferece uma nova interpretação para a “música feita para os palcos”.
Representativo de uma nova geração de artistas, menos preocupada com rótulos e mais interessada em olhar para a música como um universo de encontros, onde as referências e visões de mundo confluem em música feita para sentir na mesma intensidade que para se ouvir – em contraponto ao movimento da música pela música -, os músicos da Doberrot entregam um disco em constante fluxo, crescendo e transformando-se a cada nota.
É inevitável que esta característica seja importante (e necessária) em todo e qualquer gênero, mas no caso desta sonoridade não rotulável e intercambiante entre post-indie-prog-rock do grupo, em que os artistas têm certa dificuldade em levar o ouvinte a algum lugar realmente palpável e não simplesmente efêmero, torna-se ainda mais notável por sua raridade.
Cada uma das quatro faixas de Não Repara a Bagunça é testemunho do domínio do grupo sobre suas capacidades, passando à margem da obviedade e nem chegando próximo à soberba. Certamente, não dá para considerar que o experimentalismo os aproxime de art-rock, mas há um certo flerte com o vanguardismo musical. À medida que as guitarras crescem e se entrelaçam nas faixas, surgem melodias cintilantes, uma explosão sonora que não ocorre no despejo desnecessário de distorções ou riffs acelerados, mas na criação de uma narrativa sonora edificante.
Característica das vertentes em que bebem, a exploração de faixas com duração mais longa não cansa, muito em virtude da vibe criada pela Deberrot. Outro fator preponderante é o álbum não ser extenso, o que concentra a verve criativa em pouco mais de vinte minutos, sem maiores obstáculos e com uma sensação de despedida esperançosa ao final do disco. Dos bons lançamentos deste 2017 paranaense.