Donna Santisi é uma das mais importantes fotógrafas da história do rock desde o início da década de 1970, ainda que seu nome não tenha alcançado o mesmo prestígio que seus contemporâneos – sim, o sexismo também impera na indústria cultural. A fotógrafa se autodefiniu como uma fã do rock-and-roll, muito mais do que responsável por catalogar parte da história da música nos últimos 40 anos. “Eu sou apenas uma enorme fã do rock, eu nunca acreditei realmente no meu talento enquanto fotógrafa”, disse ela em entrevista ao Vice.
Muitos artistas sentiram-se muito conectados com seu trabalho, fato que garantiu a ela passe livre no meio de gigantes. Seu trabalho gerou um dos livros de fotografia mais bacanas de todos os tempos. Ask the Angels continha parte dos registros feitos no início da carreira da fotógrafa. Publicado em 1978 em um formato inusitado – parecia uma pequena caderneta de anotações -, o livro ganhou uma nova edição apenas em 2010, com direito a novos registros encontrados por Donna. Nesta nova edição, Donna acrescentou inúmeras imagens do início da explosão da cena feminina de punk rock da Costa Oeste norte-americana.
Patti Smith, Joan Jett, Chrissie Hynde e Janis Joplin estão nos registros de Donna Santisi e, segundo ela, resgatam momentos íntimos de sua relação com as cantoras. Seu livre-trânsito na cena foi motivado por sua lealdade. A fotógrafa presenciou muitas histórias que ficaram guardadas consigo, histórias essas que poderiam lhe ter rendido boas cifras, mas nada disso a corrompeu.
Filha de família italiana de Nova Jersey, Donna levou uma vida dupla até início dos anos 80, dividindo-se entre a carreira de contadora e a de fotojornalista das estrelas do rock durante a noite. Desse período, ela compartilhou algumas pequenas histórias recentemente, em virtude de uma exposição sobre sua obra. Uma das mais curiosas demonstra bem a relação de proximidade de Donna com os artistas, uma legítima fã, quando travou ao falar ao telefone com Janis Joplin. “Eu não estava preparada para falar com ela. Eu tinha apenas 19 anos”, contou. Pouco tempo depois desse episódio, Janis faleceu e Donna só retornou a fazer um registro fotográfico quando conheceu Patti Smith, sete anos depois. Talvez por isso, o livro tenha recebido o nome de uma das canções da cantora.
Donna levou uma vida dupla até início dos anos 80, dividindo-se entre a carreira de contadora e a de fotojornalista das estrelas do rock durante a noite.
Foi com uma foto da poeta e cantora norte-americana que recebeu sua primeira publicação. “Ela estava tocando no Roxy (um dos mais icônicos bares da Sunset Strip) duas noites seguidas, em janeiro de 1976. Ela havia acabado de lançar Horses. Eu fui vê-la as duas noites, e na segunda eu estava com a minha câmera.
Alguns dias mais tarde, eu estava em um brunch no café do Tropicana Motel. Eu tinha quatro ou cinco impressões comigo. Nós entramos e ela estava com Lenny (Kaye, seu primeiro guitarrista). Eu me apresentei e lhe mostrei as fotos.
Ela me perguntou se poderia ficar com elas. Algumas semanas mais tarde, eu fui à loja da Tower Records, na Sunset, e vi o fanzine Back Door Man com ela na capa. Ao abri-lo, estavam lá, duas de minhas fotos, e com o meu crédito. Era abril de 1976, foi minha primeira publicação.”
Joan Jett foi outra cantora a manter um laço de amizade com Donna, ainda durante a época do The Runaways. Aliás, a fotógrafa também acompanhou o fim da banda e o período de turbulência até que Joan decidisse seguir sua carreira, montando a Joan Jett & The Blackhearts. “Eu estava lá quando o Runaways se separou. Sandy e Lita queriam ir para o metal, Joan não gostou. Ela passou por um terrível período de dúvidas. Tornamo-nos mais próximas durante essa fase”, contou Donna em entrevista. Ela também foi a responsável pelas fotos dos bastidores do filme de comédia que contava com a presença das garotas do The Runaways, o longa-metragem du-BEAT-e-o.
Não lançado no Brasil, Ask the Angels é uma amostra do olhar preciso e único de Donna Santisi sobre um dos movimentos mais importantes na história da música. O livro serve, ainda, como ponto de partida para que possamos discutir como o sexismo ainda é imperante na indústria cultural, e uma boa resposta para a importância de apresentações como a de Lady Gaga e Beyoncé.
Cantoras inesquecíveis retratadas por Donna Santisi
Joan Jett
Joan não dava a mínima para sua reputação. “Bad Reputation” é um bom exemplo da atitute punk da cantora. Após seu sucesso comercial, Joan foi alçada ao posto de “Rainha do Rock”. Foi a primeira mulher a ter e controlar uma gravadora independente, a Blackheart Records
https://www.youtube.com/watch?v=5RAQXg0IdfI
Debbie Harry
Figura presente na história do CBGB, o Blondie acabou mais conhecido como uma banda de new wave do que punk. Debbie Harry é até hoje um dos principais nomes da história da música. Em entrevista, Debbie sintetizou sua importância para o movimento feminista e para as mulheres. “Eu estava morta de tão enjoada e cansada de todas aquelas músicas das garotas do R&B, os trios e essas coisas. Elas eram todas vitimizadas pelo amor. Eu estava enjoada disso. Eu não queria retratar a mim mesma e as mulheres como vítimas.”
Patti Smith
Patti era poetisa, cantora e musicista e procurou fazer do rock sua forma de extravasar o seu “eu lírico”. Apesar de por vezes recusar ser tida como feminista, sua postura serviu como impulsou às mulheres que queriam (e querem) mergulhar no rock ‘n roll.
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