Há bandas que são conhecidas pela alcunha de “supergrupos”. O A Perfect Circle talvez seja uma dessas. Capitaneada por Maynard James Keenan, figura central do Tool, célebre por sua pegada pesada e progressiva, e contando também com integrantes oriundos do Smashing Pumpkins, o A Perfect Circle sempre teve uma verve um pouco mais alternativa e comercial que a outra banda de Keenan.
Após rumores que a banda estaria se preparando para lançar mais álbum, Keenan, que também possui um restaurante e adega no Arizona, afirmou que seu processo criativo se aproximava muito do desenvolvimento de um bom vinho, que precisava de tempo e que, uma vez imerso no processo, ele não se importava muito com o tempo. Daí que se passaram 14 anos, e o A Perfect Circle finalmente lançou seu tão esperado Eat the Elephant dia 20 de abril.
Por mais que não seja o trabalho mais afiado de Keenan, o resultado final é admirável. Explorando sonoridades mais alternativas, em alguns momentos é quase possível ouvir as influências do jazz e do rock progressivo nas faixas, que soam muito mais polidas, pesadas e soturnas.
Por mais que não seja o trabalho mais afiado de Keenan, o resultado final é admirável.
Uma das coisas mais interessantes em Eat the Elephant é a maneira como o disco foi pensado para uma plataforma que, hoje em dia, não é mais apenas de streaming de música. No Spotify, os 45 minutos do disco são acompanhados por uma série de imagens animadas que fazem parte da identidade visual do projeto e que ficam dançando na tela.
Talvez querendo estar mais em sintonia com um mundo que não para de mudar, muitas letras do grupo falam sobre as questões da atualidade, como o uso de smartphones, a maneira como empregamos nosso tempo e dinheiro. Infelizmente, as letras não correspondem à expectativa e, por vezes, soam um pouco infantis, como é o caso de “So long, and thanks for all the fish”, uma clara referência ao universo de Douglas Adams, e que possui uma melodia cativante, mas soa como se tivesse sido escrita por um grupo iniciante e não pelos veteranos que sabemos estar à frente do A Perfect Circle. Isso não chega a ser suficiente para estragar a experiência de Eat the Elephant, que possui inúmeros bons momentos, como é o caso da faixa que dá nome ao álbum e “Hourglass”.
Musicalmente, no entanto, o resultado é agradável, as faixas conseguem concatenar uma atmosfera mais comercial, com toques levemente góticos, porém sem a complexidade depressiva na qual por vezes resvala o som do Tool, por exemplo.
Eat the Elephant não é o melhor disco que você vai ouvir esse ano, mas, sem dúvida, vale a pena ser ouvido porque há nele um espírito e a tentativa genuína de manter viva uma vertente do rock que, ultimamente, foi solapada pelo indie na mídia. Keenan ainda é uma das figuras mais interessantes de nossos tempos, um músico que não hesita em experimentar ou, como no caso desse álbum, voltar ao básico, àquilo que ele sempre fez de melhor.
Ouça ‘Eat the Elephant’ na íntegra no Spotify