Quem acompanha a música para as crianças sabe bem a importância da dupla Palavra Cantada. Formada há 28 anos por Sandra Peres e Paulo Tatit, o grupo é uma referência de qualidade na música infantil, e tem uma produção lembrada por pequenos e adultos de várias gerações.
Eles retornaram para Curitiba no último domingo, para apresentar o show “Vem Cantar com a Gente”, depois de dois anos afastados dos palcos, por conta da pandemia. Neste período, estiveram presentes em apresentações online, mas Sandra Peres, em entrevista à Escotilha, garante: o contato humano é fundamental.
O show, ocorrido no grande auditório do Teatro Guaíra, foi um retorno apoteótico para uma multidão de fãs pequenos e adultos muito empolgados. O show durou cerca de uma hora e meia e trouxe 25 das músicas mais populares do grupo. Além de um passeio nos hits, foi também uma visita muito rica aos tantos ritmos trabalhados nas canções da Palavra Cantada, como o samba, o pop, o rock, o jazz, as percussões da música afro, as influências do axé e até o rap.
Foi um show empolgante para os presentes que puderam se divertir e dançar com músicas como “Pé com Pé”, “Sambinha da Fralda Molhada”, “Samba do Mexe-Mexe”, “Criança Não Trabalha”, “Tchibum da Cabeça ao Bumbum”, “Bolacha de Água e Sal”, e a belíssima “África”, uma parceira com Arnaldo Antunes.
O público ansiava para cantar com o hit absoluto “Sopa” (houve quem levasse colheres de pau para o Guaíra, para tocar junto tal qual no clipe), mas provavelmente o grande momento do show foi “Duelo de Mágicos”, que mistura música e teatro com a performance muito inspirada dos músicos Daniel Ayres e Julia Pittier em performances divertidíssimas, além de fisicamente exigentes.
Antes do show, conversamos com Sandra Peres sobre a expectativa de reencontrar as crianças nos palcos e sobre a experiência da dupla com a música infantil há quase três décadas.
ESCOTILHA » Vocês retornam aos shows depois de um período de pandemia. O que significou para vocês ficar longe dos palcos? O quanto esta troca para o público é importante para a Palavra Cantada?
Palavra Cantada » Retornar aos palcos depois da pandemia só faz a gente confirmar o que já sentíamos. A ferramenta da transmissão nas redes digitais é muito legal, mas nada substitui o contato humano. A gente percebe que tem crianças que ficaram em casa durante esse período. Elas tinham dois aninhos e agora têm quatro. Então nunca assistiram um show da Palavra Cantada. Então agora é o momento de fazer este encontro.
Como se deu a transição da dupla para a música infantil? Vocês continuam produzido música “adulta”?
Eu acho que quando a gente faz música para a criança, está também falando com o adulto, de certa forma, pois estamos tratando de temas sensíveis para a humanidade, sobre as relações humanas. E nossa música também chega muito para os professores, que são adultos, e levam as canções para a sala de aula. Então eu considero que nossa música é para a família inteira.
Quais são as referências de vocês pra compor música para crianças?
A gente tem uma gama enorme de referências, que vão desde música clássica, Beatles, música de raiz brasileiras, as que tratam da manifestação da cultura afro no Brasil, em especial as que têm o elemento da percussão como suporte, Caetano Veloso, Marisa Monte… Enfim, todos os compositores e compositoras que trazem elementos de uma sonoridade que tem a ver com o universo que a gente transita.
É o universo da inspiração, de poder levar percepções diferentes sobre alguns temas para que as crianças entendam, ouçam e apreendam aquilo que estão ouvindo. Dá ainda para citar Arnaldo Antunes, que é parceiro nosso, Alice Ruiz, que é uma poeta maravilhosa, Tereza Cristina, Monica Salmaso, Chico Buarque… é uma gama enorme de referências e inspiração para a nossa música.
A Palavra Cantada já tem 28 anos. Dá para dizer que vocês já acompanharam diferentes gerações de crianças. O que mudou na infância desde o começo do grupo? Há alguma mudança na forma de falar com elas?
“A ferramenta da transmissão nas redes digitais é muito legal, mas nada substitui o contato humano”.
Sandra Peres
Nós, como dupla musical, vimos que aconteceram algumas mudanças ao longo destes 28 anos. Hoje as crianças têm acesso a conteúdos muito mais imagéticos, como músicas, clipes, desenhos animados, e antes isto não era tão presente.
Eu não acho que a infância mudou, pois os temas continuam os mesmos: o gosto das crianças por bichos, os elementos das brincadeiras, como trava-línguas, provocação com as palavras. Isto sempre existiu e sempre existirá, pois a infância é a infância, um momento tão pleno da vida.
Tem alguns temas que foram incorporados. Mas penso que a inserção da imagem para as novas gerações é algo muito forte, por conta do advento das redes digitais.
A Palavra Cantada vai além da música, e envolve também toda uma experiência a partir de uma linguagem audiovisual capaz de cativar e comunicar com as crianças. Isto é pensando por vocês desde o início do processo de criação de um disco ou de uma música?
Nós sempre pensamos no conteúdo da imagem da música. Quando a gente elabora uma música, a gente está sempre pensando o que ela vai querer dizer com imagens. Estas imagens devem provocar sensações, percepções de cenários, de presenças que podem ser instigantes para ela.
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