Fábio Cardelli é nome atuante em diferentes frentes musicais: já tocou com as bandas Wasted Nation, Cabongues, Cabezas Flutuantes e Visitantes, além de ter dirigido o coletivo Escárnio e Osso! de 2003 a 2009. Em 2012, começou a investir na sua carreira solo, lançando em 2015 o disco A Palavra dos Olhos.
No início de 2018, saiu Cardellicious, seu novo EP, com pouco mais de 15 de minutos e com força pop rock para animar diferentes ouvintes. O EP foi gravado seguindo o conceito power trio, com Cardelli acompanhado de Fabio Tito (baixo e vocal) e Marlon Marinho (bateria e vocal).
Cardellicious é veloz, com momentos mais pesados, para bater cabeça, e outros momentos mais pop, de caráter bastante acessível, do tipo que tocaria nas FMs, se a gente ainda escutasse as FMs.
O interessante de Cardellicious é que é um rock pra cima, pra dançar pra valer, do tipo que cada vez menos se faz no Brasil.
O trabalho de Fabio Cardelli tem um ar que vem do grunge, do britpop e de todo o rock alternativo que dominava a MTV nos anos 90, porém tem conversa de forma direta com o Brasil, dialogando com bandas como Autoramas e Pin Ups, as clássicas bandas da era das fitas cassete. Apesar de todo o ar nostálgico e de todas as referências diretas ou indiretas aos anos 90, a mão de Cardelli é firme em não deixar o disco soar como arremedo de tudo que já vimos naquela década.
Sua voz de compositor é divertida e sagaz, traz uma leveza, um tom jocoso que funciona e diverte. “Meu amigo é um perigo” tem uma batida que gruda na nossa cabeça e refrão bom de cantar junto, já “Shirley” funciona como uma singela canção de amor, do tipo para se entoar bêbado para a Shirley da sua vida.
“Depois de nascer”, que saiu como primeiro single e abre o EP, é sobre a vida nas cidades grandes, um tema recorrente na arte, mas que soa interessante com seus versos como “Ninguém sabe o que é estar na sua pele / Problematizaram por vaidade / O que te fascina, o que te repele”.
O interessante de Cardellicious é que é um rock pra cima, pra dançar pra valer, do tipo que cada vez menos se faz no Brasil. Andamos meio cabisbaixos e muito do (bom e pouco) rock que se faz por aqui é sempre de guitarras mais sombrias e climáticas, que apontam certa melancolia (isso não é algo negativo, pelo contrário, acho bastante interessante e representativo da nossa era), mas o trabalho de Fabio escolhe o caminho contrário: é pra pular, derrubar cerveja pelo chão e se divertir. Tem dias que só precisamos disso.
No final das contas, não há uma grande novidade nas sonoridades apresentadas por Cardelli, porém seu som é eficaz em nos envolver, em nos fazer cantar junto e funciona de forma certeira nesse ritmo veloz de EP. São 15 minutos bons de colocar no repeat!