A ocupação de espaços públicos já se mostrou um potencial aliado do urbanismo e uma ferramenta poderosa no processo de planejamento das cidades, em especial na prevenção contra crimes e violência urbana, como apontado pelo urbanista Rafael Veríssimo em sua tese de mestrado na UFRJ.
Ainda citando Veríssimo, regiões com espaços públicos ocupados “não apresentam os mesmos índices de criminalidades assim como a incidência de certos padrões criminais diferem tanto espacialmente quanto estruturalmente na composição da geografia do crime”.
Não há necessidade de versar aqui que a deterioração da paisagem urbana faz com que população e criminosos signifiquem este cenário como a ausência do poder público, enfraquecendo a comunidade e, consequentemente, aumentando a insegurança e dando margem a práticas criminosas. Então a pergunta que fica é: de quem é a rua?
Ocupar o espaço público é um ato político, cívico, urbano e divertido. Acima de tudo, ao ocupá-lo, nós reinventamos a cidade. “É disso que a cidade precisa: novas roupagens, sonoridades e ações que enalteçam o belo, o lúdico e o desenvolvimento de coletividade”, afirma Michelle Hesketh, do Escritório de Criação, equipe responsável, entre outras coisas, pelo Festival Ruído nas Ruínas, que pela quinta vez abraça Curitiba musicalmente.
Ocupar o espaço público é um ato político, cívico, urbano e divertido. Acima de tudo, ao ocupá-lo, nós reinventamos a cidade.
E desta vez não é só. A feira gastronômica Jardim das Delícias também marca espaço, além da exposição Música + Bicicleta = Musicletada, que seguirá aberta à visitação até o dia 28 deste mês, no Museu Paranaense. Completando a pluralidade do Ruído, está previsto um bate papo sobre os direcionamentos da música paranaense.
Já integrado ao calendário cultural da cidade, o Festival Ruído nas Ruínas segue o ritmo de outros movimentos e iniciativas que têm enxergado as cidades a partir de sua inserção no contexto social. “Iniciativas como o Ruído, Musicletada, Batalha da Cultura, Às Voltas, entre tantas outras ações realizadas em Curitiba, tanto no centro como na periferia, buscam democratizar o acesso à arte, educação (não formal), diversão e cultura”, aponta Michelle.
E democratizar o acesso envolve vários aspectos, como mostra Maria Helena Pires Martins, pesquisadora de políticas culturais da ECA/USP. O acesso físico implica em melhor distribuição geográfica de equipamentos culturais; o acesso econômico diz respeito aos custos de participar da vida cultural da cidade ou comunidade, e que precisam ser subvencionados tanto para criação quanto para o consumo; e, também, o acesso intelectual, ou seja, a compreensão das linguagens da arte, da história e do contexto social em que a cultura é criada. Frente aos fatos, é fácil de compreender porque louvar um festival que reconhece a importância do espaço público e do sentimento de pertencimento, tanto do patrimônico quanto das próprias manifestações culturais. Além disso, eventos como o Ruído nas Ruínas “engajam, desenvolvem e retém talentos locais”, finaliza Michelle.
Para o restante do ano, Michelle garante que a Escritório de Criação continuará na luta para realizar e fortalecer o Ruído CWB e a Musicletada, e pretende ir além. “Fechamos importantes parcerias em eventos que serão realizados, ainda no primeiro semestre de 2016, como o Festival Suave (da Tertúlia Produções), Mucha Galeria (da Produtora Mucha Tinta) e Feira Internacional da Música do Sul (da Whois Produções).” Parece que mais do que nunca, Curitiba e curitibanos se querem. Ganhamos todos.
Velhos e novos riffs
Nesta edição, Troy Rossilho e Os Calvos, Gripe Forte, Transtornados do Ritmo Antigo, Confraria da Costa, Quick White Fox, ruído/mm e Orquestra Friorenta, além dos DJs, serão os responsáveis por liberar decibéis nas Ruínas de São Franscisco.
Às 15 horas de sábado, Curitiba terá a oportunidade de acompanhar três músicos que representam muito da cena local. Oneide Diedrich (Pelebrói Não Sei), Fabio Elias (Relespública) e Giovanni Caruso (Faichecleres) se juntam a Ivan Rodrigues, filho do falecido vocalista da Blindagem, Ivo Rodrigues, e formam a Gripe Forte, relembrando sucessos que marcaram a história destas bandas que são das mais icônicas de Curitiba.
Selecionados para a edição 2016 do South by Southwest (SXSW), Giovani Farina (Givex), Alexandre Liblik, Rafael Panke, Ricardo Oliveira (Pill) e Felipe Ayres trazem novamente o post-rock da ruído/mm em último show na terrinha antes de partirem para Austin. Com a perspectiva de novo álbum para este ano, é hora de darmos o último pique para desfrutar Rasura.
E quem promete esquentar as Ruínas é a Orquestra Friorenta. Trocadilho infame à parte, o grupo, formado por oito músicos de diferentes localidades do Brasil radicados em Curitiba, tem mostrado com seu repertório diversificado que a frieza curitibana também pode ser um mito – ou uma música. Entre milongas, carimbós, cumbias e otras cositas más, a Orquestra Friorenta traz à cidade a mesma energia que foi levado aos palcos do Psicodália. Do início ao fim, o Ruído nas Ruínas está imperdível.
SERVIÇO | Ruído nas Ruínas
Quando: 27/02, sábado, a partir das 10h;
Quanto: Gratuito;
Onde: Ruínas de São Francisco, Largo da Ordem | Curitiba/PR
Para mais informações acesse: www.ruidocwb.com