“Bruxo”, “campeão” e “homem som” são alguns dos apelidos que o multi-instrumentista autodidata Hermeto Pascoal recebeu ao longo da sua vida. Aos 87 anos, o alagoano é tido como um dos músicos brasileiros com maior reconhecimento internacional. Mas, por incrível que pareça, ele não havia recebido uma biografia até agora. O livro Quebra Tudo – A Arte Livre de Hermeto Pascoal, do jornalista paulistano Vitor Nuzzi (autor também de Geraldo Vandré – Uma Canção Interrompida, de 2015), chega para suprir essa lacuna.
A obra é um resultado de anos de pesquisa e mais de 50 entrevistas conduzidas pelo autor para tentar desvendar a vida e a obra do artista nascido em Lagoa da Canoas, no interior de Alagoas. Editado pela gravadora, produtora e editora Kuarup, a biografia conta também com um prefácio do pesquisador Tárik de Souza e posfácio do professor Paulo Tiné. Para completar, terá um lançamento de luxo no dia 15 de maio, na casa de espetáculos Bourbon Street, seguido por um show com Hermeto Pascoal.
Vida e obra do homem som
Prestes a completar 88 anos, Hermeto Pascoal nasceu em um dos vários povoados de Lagoa da Canoa, chamado Olho D’Água. Da mesma forma que seu irmão Zé Neto, um ano mais velho que ele, Hermeto nasceu albino. Anos mais tarde, os dois conheceram Sivuca, também albino, e juntos quiseram formar o Trio Pegando Fogo.
O grupo durou pouco tempo, mas o lendário multi-instrumentista paraibano notou que Hermeto carregava o “fogo sagrado” da música. Ele nunca mais sairia da arte. Começou a tocar na noite de Recife, Rio de Janeiro e São Paulo, onde formou vários grupos – o mais famoso foi o Quarteto Novo, ao lado de Airto Moreira, Heraldo do Monte e Theo de Barros.
Entre os anos 1960 e 1970, Hermeto Pascoal foi para os Estados Unidos, onde tocou com lendas do jazz, com Miles Davis – inclusive, teve músicas não creditadas em um LP do músico. Em Montreux, estrelou em uma noite ao lado de Elis Regina, em um momento que classificou como um “presente que ganhou da vida”. Dentre os incontáveis trunfos de sua história, estão um Grammy e o título Doutor Honoris Causa na Julliard School, recebido das mãos de Wynton Marsalis.
Hermeto Pascoal não sabe ao certo quantas músicas compôs, mas estima-se que cheguem a um número próximo de 11 mil.
O jornalista e a obra
“A trajetória de vida de um artista com o Hermeto não se esgota em um livro, e ainda há muito que contar e descobrir”.
Vitor Nuzzi
A biografia de Hermeto Pascoal chega ao mundo de um jornalista experiente. Com 36 anos de profissão, Vitor Nuzzi tem passagem por vários veículos, em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Brasília. Embora sua carreira tenha se voltado mais ao noticiário econômico, a cultura sempre esteve entre o seu interesse.
Para construir a biografia Quebrando Tudo, Nuzzi entrevistou dezenas de pessoas, e conversou com o próprio Hermeto no apartamento em que ele mora com o filho Fabio, no Rio de Janeiro. A pandemia de COVID-19 impediu que se encontrassem muitas vezes, mas isso não prejudicou o resultado do trabalho.
“Ele, como sempre, muito tranquilo e também brincalhão. Logo depois veio a pandemia, e isso impediu outros encontros, não só com o próprio Hermeto, mas com alguns entrevistados. A saída foi mandar perguntas, fazer entrevistas por telefone ou vídeo, e muita, muita pesquisa. Foram mais ou menos seis anos nesse trabalho, nem sempre contínuo”, conta Nuzzi.
O jornalista também aponta que a história de vida de um artista com o Hermeto não se esgota em um livro, e ainda há muito que contar e descobrir. “Para mim, é um mistério que um nome como o de Hermeto Pascoal, com quase 88 anos e toda a história que ele construiu pelo mundo, não tivesse recebido uma biografia. Espero que venham outras”, sugere.
Autor também da biografia sobre Geraldo Vandré, Vitor Nuzzi também destaca a importância de que se elabore mais registros sobre a música brasileira, que considera o melhor “produto” do país. “Quando o livro sobre Vandré foi publicado, em 2015, eu esperava que isso ao menos ajudasse a reduzir os mitos e as lendas em torno do nome dele. Sempre disse, e repito, que o mais importante era ouvir a obra, ouvir as músicas que ele criou”, comenta, ao citar que o músico foi reduzido a um “cantor de protesto”.
Na sua visão, há uma necessidade de que mais jornalistas e pesquisadores aumentem os registros sobre os artistas nacionais, de forma a desconstruir mitos. “Geraldo Vandré fez muito mais, tem uma obra importante na história da nossa música. Já o Hermeto é um dos mais criativos e originais instrumentistas que este país já criou. Às vezes, como o Brasil é o país dos cantores, cantoras, intérpretes, se deixa em segundo plano os instrumentistas. Tanta gente ainda merece ter sua história contada… Mas o registro histórico está crescendo”, conclui.
SERVIÇO | Lançamento Quebra Tudo! – A Arte Livre de Hermeto Pascoal com noite de autógrafos com o autor Vitor Nuzzi
Onde: Bourbon Street (Rua dos Chanés, 127, Moema | São Paulo/ SP);
Quando: 15 de maio – 19h30;
Quanto: R$ 50 (valor do livro).
Show Hermeto Pascoal
Onde: Bourbon Street (Rua dos Chanés, 127, Moema | São Paulo/ SP);
Quando: 15 de maio – 21h30;
Quanto: R$ 90 (inteira), R$ 45 (meia entrada). Informações sobre o show aqui.
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