Bloc Party nasceu em Londres no fim dos anos 1990, entre amigos de cena e anúncios no NME, e teve sua formação clássica forjada quando Kele Okereke e Russell Lissack se juntaram a Gordon Moakes e Matt Tong. Essa origem “de botequim e zine” ajudou a definir um som que soava simultaneamente urbano e intelectual — guitarras angularmente rítmicas, uma cozinha percussiva que empurrou as músicas para a pista e uma voz que oscilava entre a contensão e a catarse.
O impacto veio com o álbum de estreia Silent Alarm (2005): produção afiada, canções tautas como “Banquet” e “Helicopter” e uma recepção crítica que transformou o disco em ícone do movimento indie britânico. O álbum foi indicado ao Mercury Prize e consagrou a banda como porta-voz de uma geração urbana inquieta.
Daí em diante, a trajetória do Bloc Party passou por mutações claras. A Weekend in the City (2007) ampliou ambições narrativas e sonoras — temas explícitos sobre vida urbana e política — enquanto Intimacy (2008) mergulhou em texturas eletrônicas e produção fragmentada; já Four (2012) foi lido como um retorno às guitarras, e Hymns (2016) experimentou matizes espirituais e atmosféricos. Em 2022, a banda lançou Alpha Games, álbum que muitos críticos viram como uma síntese entre nervosismo antigo e produção contemporânea.
O que mantém o Bloc Party relevante não é apenas a oscilação estilística, mas a voz — literal e política — de Kele Okereke. Filho de imigrantes nigerianos, Kele trouxe desde cedo uma perspectiva pessoal que atravessa identidade racial, sexualidade e a visibilidade masculina gay no rock, além de uma carreira solo que soma trabalhos eletrônicos e mais íntimos. Essa frontalidade deu às letras uma densidade que, somada à urgência dos arranjos, evita que o grupo se transforme em mera máquina de nostalgia.
Ao vivo, o contraste entre a precisão instrumental e a energia afiada transforma canções aparentemente controladas em momentos de descarga coletiva.
Ao vivo, o contraste entre a precisão instrumental e a energia afiada transforma canções aparentemente controladas em momentos de descarga coletiva — e é esse efeito que justificou, historicamente, a reputação da banda nos palcos desde meados da década passada. Espera-se, portanto, um set que percorra os clássicos de Silent Alarm enquanto circula por faixas mais recentes, numa equação pensada tanto para fãs antigos quanto para plateias de festivais.
Para o público paulistano, o show no Parque Ibirapuera no dia 2 de novembro (durante o festival ÍNDIGO) faz parte da escala latino-americana da banda em 2025 — um lembrete de que, mesmo com linhas de história tão distintas e fases de experimentação, o Bloc Party ocupa um lugar singular entre bandas que souberam transformar a ansiedade contemporânea em canções de grande clareza rítmica e melódica.
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