Movimento literário e poético surgido no século XI, durante a Idade Média, foi em Portugal que atingiu seu apogeu durante o período em que começou a despontar como nação independente. A origem do trovadorismo estaria relacionada com a Occitânia, território francês que compreende as regiões de Provença, Limusino, Auvérnia, Gasconha, Languedoque e Delfinado. Os trovadores eram os compositores das poesias e das melodias que as acompanhavam, resultando nas cantigas.
Mais de 700 anos depois, foram muitos os músicos que adaptaram o trabalho dos trovadores, criando novas formas de apresentar o cotidiano e suas temáticas. O sertanejo, o violeiro, o folk e outros gêneros e subgêneros foram responsáveis por retratar pequenos recortes de nossa vida em poesia e música. Um dos maiores ícones do gênero, Bob Dylan, é até hoje o maior representante dessa forma moderna de trovadorismo.
Mas é do Canadá de onde vem o artista que hoje ilustra a coluna. Não são poucos os artistas que se puseram a narrar a vida e o cotidiano das terras que ocupam boa parte da América do Norte, mas um dos maiores, se não o maior, é Leonard Cohen. Ainda que muitas de suas músicas tenham alcançado notoriedade na voz de outros intérpretes – o cantor, compositor, poeta e escritor só passou a dedicar-se à música após os 30 anos de idade -, Cohen rompeu com isto quando se mudou para os Estados Unidos. Além de ter duas canções gravadas por Judy Collins (“Suzanne” e “Dress Rehearsal Rag”), o músico participou do Newport Folk Festival e chamou a atenção de ninguém menos que John Hammond, o produtor que descobriu Bob Dylan e Billie Holiday.
Aliás, Dylan foi um nome que vagou bastante pela carreira de Leonard Cohen. Bob Johnston, produtor dos principais trabalhos de Dylan nos anos 1960, produziu Songs From a Rose, segundo disco de Cohen, que se não era tão incrível quanto o primeiro (Songs of Leonard Cohen, sucesso de público e crítica), continha a canção favorita do canadense: “Bird on the Wire”.
A década de 1970 foi marcada por discos mais soturnos, como o sombrio Songs of Love and Hate (1971) e New Skin for the Old Ceremony (1974). Em Death of a Ladies’ Man (1977), Cohen fez seu mais ousado e experimental trabalho. Já em Recent Songs (1979), Leonard Cohen retorna a um trovadorismo mais próximo de seu início de carreira, incluindo as sutilezas do jazz e influências de música oriental.
Não são poucos os artistas que se puseram a narrar a vida e o cotidiano das terras que ocupam boa parte da América do Norte, mas um dos maiores, se não o maior, é Leonard Cohen.
Os próximos anos foram de muitos trabalhos em parceria (como com a conterrânea Joni Mitchell, por exemplo), poucos discos (apenas três entre 1980 e 2000) e muito retiro, literalmente: Cohen se converteu ao budismo e passou a viver no mosteiro de Mount Baldy Zen Center, próximo de Los Angeles, chegando a ser ordenado monge zen com o nome de Dharma de Jikan.
Se entre 1980 e 2000 o músico pouco produziu, “Hallelujah”, canção composta por ele e presente em Various Positions, disco de 1984, garantiu-lhe que nunca saísse das mentes e dos fones dos fãs de música. É, provavelmente, sua canção mais regravada, ganhando versões com o Bon Jovi e até com a banda sueca de rock progressivo Pain of Salvation. Entretanto, foram Jeff Buckley e Rufus Wainwright os que ganharam maior notoriedade com suas versões.
A versão de Buckley é, inclusive, considerada a “definitiva” da canção. O músico norte-americano, famoso por sua exigência musical, gravou mais de vinte takes da canção até ficar satisfeito. Bem, não tão satisfeito, já que a versão de estúdio que conhecemos é fruto de junção dos vinte takes gravados. Pesou a favor desta versão o fato dela estar presente no único disco realmente completo lançado pelo músico em vida – Grace, de 1994.
Seu retorno aos discos aconteceu em 2001, com Ten News Songs, seguido de Dear Heather (2004), Old Ideas (2012) e de Popular Problems (2014). Este último disco, apesar de receber certas críticas pesadas – alguns chegaram a dizer que se tratava de abuso por parte da Columbia, sua gravadora, fazer com que ele aos 80 anos se esforçasse em ainda entrar em um estúdio e encarar horas em um penoso processo de gravação – foi bem aceito pelo público, principalmente por Cohen demonstrar que não perdeu em nada a beleza e a delicadeza de suas composições. “Almost Like the Blues” é tranquilamente uma de suas mais belas músicas, e olha que elencá-las seria um trabalho ingrato.
Aliás, o jornal inglês The Guardian tentou, no último ano, essa ingrata missão de selecionar as 10 melhores faixas da carreira de Leonard Cohen. “Almost Like the Blues” está entre elas. As demais você pode conferir na matéria (em inglês) clicando aqui. E aí, qual sua canção favorita do trovador canadense?
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