Os festivais na América Latina têm um caráter muito diferente dos que acontecem no restante do mundo. Costumam ser uma das poucas – e muitas vezes única – chances de ver alguns artistas de perto. Em virtude disto, os organizadores dos festivais optam por traçar line-ups com menos bandas de rock, procurando assim aumentar o raio de interesse pelos ingressos.
Line-ups como o do Lollapalooza, que aconteceu no último final de semana, aguçam a curiosidade em compreender o quanto eles realmente refletem o gosto musical contemporâneo e o quanto são apenas uma questão de números.
Claro que todo festival tem como objetivo a obtenção de lucro. Seria inocente pensar diferente. De toda forma, quando analisamos as primeiras edições do Lollapalooza, é nítido o caráter cada vez mais pop e eletrônico do festival, que nesta edição traz nomes como Pharrel Williams e o DJ escocês Calvin Harris.
O Lollapalooza, anteriormente consistente, se tornou uma mexerufada ao oferecer um leque maior de estilos e palcos procurando, assim, agradar gregos e troianos.
A cada edição, Perry Farrell (organizador e líder do Jane’s Addiction) torna o que antes era exceção em normal. Bandas como TV On The Radio, Alabama Shakes, New Order e Pixies, acabam relegadas a palcos secundários ou horários não considerados nobres, disputando inclusive público com outros grupos que se apresentam ao mesmo tempo.
Enquanto isso, artistas de outros gêneros, como a música eletrônica, por exemplo, ganham cada vez mais espaço e relevância no evento. O Lollapalooza, anteriormente consistente, se tornou uma mexerufada ao oferecer um leque maior de estilos e palcos procurando, assim, agradar gregos e troianos.
O que está em debate aqui não é a qualidade dos artistas ou mesmo o gênero musical que representam. Na realidade, chama a atenção como a aposta em artistas do meio pop e eletrônico parece ser mais cômoda e segura para garantir a realização do festival.
Entretanto, festivais nacionais de menor expressão como Porão do Rock, Abril Pro Rock e João Rock, sobrevivem há anos com menos recursos, público e patrocínio. Vivendo a mesma realidade, o Goiânia Noise Festival completou 20 anos em 2015, sem nunca tornar seu line-up mais pop.
Se essa guinada pop/eletrônica é uma tendência futura aos festivais ou apenas um movimento isolado, somente o tempo será capaz de desvendar esta questão. Em todo caso, o festival trouxe esse ano alguns artistas que chamaram nossa atenção, casos de Alt-J, Foster The People e Smashing Pumpkins.
Rock não atrai audiência: frase de Billy Corgan vale para o Lollapalooza
O Smashing Pumpkins de Billy Corgan chegou como headliner do segundo dia. A banda retornou ao Brasil após quatro anos, trazendo na bagagem seu último álbum, Monuments to an Elegy, de 2014.
Em recente entrevista, Corgan disse crer que o rock vive um mau momento. Para ele, “tocar guitarra não é mais envolvente, não atrai audiência” (leia entrevista aqui). O line-up do festival parece corroborar tal afirmação.
Monuments to an Elegy recebeu algumas críticas positivas, porém, não manteve o bom retrospecto do álbum anterior. Se em Oceania o SP havia resgatado o bom trabalho da cozinha, neste novo disco a banda torna a soar mais próxima dos anos 1990, mas não o SP dessa mesma época.
A promessa feita por Corgan de focar suas melodias na guitarra, fazendo assim um rock cru, só se concretiza na faixa “One of All”. As demais músicas são marcadas mais pela predominância de sintetizadores, lembrando um pouco o que a banda já havia feito em Adore, de 1998.
Talvez Monuments não marque história na discografia da banda, mas o disco serve como uma boa distração caso deseje ouvir um pouco de rock alternativo.
Em geral este é o álbum mais curto (32 minutos) e menos conceitual da banda, e ainda sim, o mais acessível. Tem peso, cativa, o romantismo jovial das letras agrada e possui temas de fácil compreensão.
É ousado como Billy Corgan, mas não como o Smashing Pumpkins.