Todo mundo lembra de já ter se acabado numa pista de dança no início dos anos 2000 ao som de “I bet you look good on the dance floor”. A faixa, que foi um dos cartões de visita do Arctic Monkeys, era energia pura e uma síntese perfeita do que foi o indie nos anos 2000. Hoje, findo o reinado de Strokes e companhia, a maioria das bandas, apesar de continuar explorando verves alternativas, tem buscado na reinvenção de suas identidades musicais a resposta para continuar fazendo sucesso e se mantendo sob a luz dos holofotes.
Após um hiato de 5 anos desde o lançamento do último álbum, o Arctic Monkeys voltou à tona ontem com o lançamento de Tranquility Base Hotel & Casino.
Diferente da maioria dos álbuns, que é divulgado de forma massiva em redes sociais, ganham clipes das músicas de trabalho que imediatamente vão parar no YouTube e em outros sites, o álbum do Arctic Monkeys foi lançado na íntegra, sem ter seu lançamento antecedido por qualquer faixa, e tudo que foi sendo construído sobre ele vinha à tona através das entrevistas de Alex Turner.
Se por tudo que foi dito pelo líder da banda, já era possível perceber que uma experiência distinta estava por vir, talvez ninguém estivesse definitivamente preparado para o álbum em si.
Se por tudo que foi dito pelo líder da banda, já era possível perceber que uma experiência distinta estava por vir, talvez ninguém estivesse definitivamente preparado para o álbum em si.
Tranquility Base Hotel & Casino é, para começar, um disco calmo, de faixas que, como o próprio nome sugere, exalam uma certa tranquilidade e atmosfera serena. Dito isso, pouco do que se encontra ao longo das 11 faixas que compõem o álbum lembram remotamente a banda de hits dançantes e enérgicos.
Levemente melancólico, as guitarras são quase imperceptíveis e muita da musicalidade explorada soa um tanto hermética e pouco empolga. Em alguns momentos, as faixas chegam a soar como se fossem uma espécie de música de fundo, talvez a música que tocasse no hotel imaginário que nomeia o álbum.
Há, no entanto, muita influência musical identificável, como o Strokes, clara inspiração para a faixa de abertura, ou David Bowie, que Turner claramente tenta emular sem sucesso nos vocais da faixa “Golden Trunks”. Há um ou outro bom momento, como é o caso de “Four out of five”, mas, no geral, o disco não impressiona e pouco fica após a audição. Não foram felizes em encontrar o meio do caminho entre o indie pop divertido e descartável que faziam no começo da carreira e a aventura pelo experimentalismo e mescla de referências diversas que é Tranquility Base Hotel & Casino.
Há quem diga que o álbum é uma obra-prima e merece ser ouvido diversas vezes, mas a verdade é que é difícil ter vontade para isso após algumas audições exploratórias; o disco soa estranho, não comunica e a maioria das faixas praticamente passa em branco, sem que haja muita coisa dele que fique na memória. Alex Turner pode ter tido boas intenções e ter citado músicos interessantes como nortes de seu projeto, mas o produto final está longe de ser memorável. Se depender de Tranquility Base Hotel & Casino, o que lhe resta é o inferno dos bem-intencionados mesmo.
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