“Generais estão reunidos com seus pelotões, como bruxas fazem em missas negras; e cujas mentes malignas tramam destruição. São feiticeiros da construção da morte. Nos campos, corpos queimam enquanto a máquina de guerra continua girando. Morte e ódio à humanidade são o que produzem, ao envenenar mentes lavadas. Oh, Senhor, sim!
Políticos se escondem – eles apenas iniciam a guerra, logo, por que eles deveriam sair para lutar? Este papel eles deixam para os pobres! Sim! Tratando pessoas como peões no xadrez, o tempo lhes mostrará que fazem guerra só por diversão: vocês não perdem por esperar! O dia do julgamento vai chegar!
Agora, na escuridão, o mundo parou de girar. Nas cinzas onde seus corpos queimam, não haverá mais porcos da guerra no poder. A mão de Deus marcou a hora do Dia do Julgamento. Ele os chamou, e, sobre os joelhos rastejam, implorando misericórdia por seus pecados. Mas o que viram foi Satã, gargalhando, ao abrir as asas… Oh, Senhor, sim!”
Se você pensou ter acabado de ler algum ensaio para um post indignado e politizado de algum satanista desesperado por um desabafo, diante das grandes injustiças e calamidades que seres humanos produzem – e há, sempre, os que estão à beira da conquista da excelência em perversidade -, calma. Os primeiros parágrafos da coluna de hoje tratam-se apenas de uma tentativa de adaptar a letra de “War Pigs”, do Black Sabbath, ao texto.
A faixa é a abertura do segundo álbum da banda, Paranoid, lançado em setembro de 1970. Não é mentira, tampouco exagero: aprendi a gostar de heavy metal por causa dessa música. É verdade, também, que a ouvi pela primeira vez apenas em 1991, na não menos espetacular versão do Faith no More, presente nos álbuns The Real Thing, de 1989, e Live at the Brixton Academy, de 1991.
Sobre conflitos, Ozzy declarou: ‘Este país é assustador para as gerações mais jovens, porque está em guerra’.
Voltando ao tema, o disco contém muitos dos maiores sucessos da banda inglesa que, talvez, inventou o heavy metal. Além disso, nas letras, expressa sentimentos em consonância com os anseios de grande parte da geração que sentiu na pele as dores da guerra do Vietnã. Sobre conflitos, Ozzy Osbourne declarou: “Este país é assustador para as gerações mais jovens, porque está em guerra”. Os riffs da guitarra de Tony Iommi, fundamentais ao estudo de qualquer aspirante a guitarrista, soam sombrios e pesados, e até hoje ecoam em bandas como Queens Of The Stone Age, por exemplo.
Com Ozzy aos berros, muitas vezes, os vocais esbanjam força, além do timbre inconfundível. Geezer Butler e Bill Ward formam uma dupla muito interessante: o primeiro, compositor e letrista inspirado, aqui, desenvolveu ainda mais as linhas de baixo, poderosíssimas, aliás, com muito groove. E Ward deita e rola na cama engenhosamente armada pelo baixista. Musicalmente, um dos melhores momentos da banda.
Um dos sinais que podem demonstrar o poder do disco no mundo do rock’n’roll, e não apenas no heavy metal, é a quantidade e a variedade de grupos a regravar canções deste registro. Vai de Pantera ao Cardigans – e, para não provocar metaleiros raivosos, pondo em risco, assim, minha integridade física, resolvi não postar a versão de “Iron Man” da banda sueca da vocalista Nina Persson, mas sim a do Ministry.
Resolvi falar sobre este trabalho do Black Sabbath de última hora. Havia pensado em Elisete Cardoso, para esta semana (adotei a grafia proposta por Sergio Cabral, na biografia Elisete Cardoso: uma vida, por razões que explicarei no momento apropriado). É que desde o título, até os últimos versos da última faixa, “Fairies Wear Boots”, o disco propõe discussões e manda mensagens, dos anos 70 e de outras terras, contextos e, sim, governos, a nós, brasileiros em ano de Copa e eleições.
Esta versão para “Fairies Wear Boots” é do Brownout, gravada para o álbum tributo Brown Sabbath, em 2014.
https://open.spotify.com/album/132qAo1cDiEJdA3fv4xyNK?si=chigRPMAS0aEUE0G1QukGg
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