OBlack Sabbath dispensa apresentações ou comentários introdutórios mais contundentes. Criadores do heavy metal e fontes de influência para incontáveis bandas, o grupo britânico – que recentemente encerrou suas atividades -, em sua fase clássica – com o vocalista Ozzy Osbourne -, gravou e desfilou inúmeras músicas que tornaram-se não só clássicos, mas hinos da música pesada.
Muita atenção se deu aos 6 primeiros álbuns do conjunto, que realmente são de chorar de tão bons, entretanto, os dois seguintes, últimos com Ozzy, que depois seria substituído por Dio e tantos outros vocalistas de alta qualidade, apresentam em suas nuances características que não deveriam ser ignoradas.
Até o sexto disco do grupo, Sabotage (1975), o Sabbath manteve uma fórmula que muito deu certo : a autenticidade e simplicidade. Os riffs crus e pesados de Tonny Iommi aliados ao baixo empunhado por Geezer Butler, tocando suas linhas de forma animalesca, e a bateria mais instintiva do que técnica de Bill Ward serviram de pano de fundo perfeito para as letras hereges cantadas por Ozzy.
Os dois últimos álbuns com Osbourne apresentaram outras nuances que foram consideradas por muito tempo oportunistas ou comerciais demais para uma banda que fazia declarações de amor a Lucifer. Claramente, estes discos não possuem a potência e a energia dos primeiros registros do grupo, entretanto, ignorá-los seria um enorme ato de injustiça com a história da banda e com os momentos de qualidade ali presentes.
Tecnical Ecstasy foi lançado em 1976 e por muitos é considerado o pior disco da era clássica do Black Sabbath. Talvez seja verdade. Entretanto, há de se relativizar, quando dizemos o “pior disco da era clássica”, precisamos ter em mente que a comparação é realizada com outras obras-primas.
Claramente, estes discos não possuem a potência e a energia dos primeiros registros do grupo, entretanto, ignorá-los seria um enorme ato de injustiça com a história da banda e com os momentos de qualidade ali presentes.
A verdade é que este é um bom disco. Realmente não apresenta uniformidade. Nele estão presentes a típica sonoridade hard rock peculiar às bandas da época, como na canção de abertura, “Back street kids”, e na ótima e intrincada “Gipsy”, a balada “It´s all right”, cantada por Bill Ward, e “Rock n´Roll doctor”, amplamente influenciada pelo rock dos anos 1950 e 1960, ilustram o pluralismo presente na obra.
“She´s gone” e “You won´t change” são boas músicas, mas parecem explorar musicalidades dissonantes ao grupo, e o experimentalismo em certos momentos se torna enfadonho. “Dirty Woman” parece que vai pelo mesmo caminho, mas é salva por passagens instrumentais inspiradíssimas. Ou seja, Tecnical Ecstasy é um disco muito bom, de uma banda que até então só apresentava registros excepcionais.
O disco subsequente, Never say die, é superior, embora também seja relegado a uma segunda categoria distinta aos primeiros clássicos. Lançado há exatos 40 anos, em setembro de 1978, o álbum amplia os experimentos do registro anterior, dialogando muito com o rock progressivo e outras sonoridades, como o jazz. Tais experimentações incomodavam muito Ozzy, que após o álbum decidiu deixar a banda e gravou uma sequência de discos solo essencialmente de heavy metal/hard rock.
Never say die é um grande disco de uma banda que buscava conhecer outros caminhos. A faixa título é um baita rock empolgante, mas canções como a futurista “Johnny Blade” e a pop “Junnior´s eyes” eram prova de que o grupo se distanciou demais do que seus fãs queriam ouvir. O Black Sabbath voltou ao heavy metal tradicional com pitadas mais hard rock na sequência com três grandes álbuns gravados por dois icônicos vocalistas: Heaven and Hell (1980) e Mob Rules (1981), com Ronnie James Dio, e Born Again (1983), com o então ex-Deep Purple Ian Gillan.
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