No palco do Teatro Renascença, em Porto Alegre, a NOAHS, quarteto composto por Murilo Brito, Danilo Brito, Bruno Bastos e Felipe Hipólito, apresenta as canções de seus dois EPs, Cedar & Fire (2014) e Rise, lançado no início deste ano. Era noite de um domingo, final do último mês de julho. Na capital gaúcha, o grupo interpreta de forma singela as canções dos álbuns, em cima de um palco em que a máxima são luzes direcionadas aos integrantes, tudo da maneira mais minimalista possível.
No palco, faixas como “Colours’, “Home Again”, “Bridges” e “Catching Stars” levam o público a uma catarse coletiva. Contudo, trata-se muito mais de uma resposta expressiva e menos de uma resposta efusiva, ainda que o público fique de pé e acompanhe com palmas os riffs das músicas.
Essa miscelânea de texturas musicais está abraçada por uma mesma energia introspectiva.
Em um mundo em que as conexões musicais se fazem cada dia mais presentes e com maior frequência, é difícil, ou até raro, encontrarmos quem faça um som “puro”, ou seja, sem contaminações de outras vertentes ou gêneros. Isto torna o trabalho de quem se debruça sobre a música um tanto ingrato, afinal, não raro alguém questiona a classificação feita a um artista pelo jornalismo cultural. Tendo isto em vista, opto por ampliar o leque e afirmar que a NOAHS, quarteto de Florianópolis, faz um indie-pop-folk.
Essa miscelânea de texturas musicais está abraçada por uma mesma energia introspectiva. O cancioneiro da música folk, aquele que nos conta histórias e procura, à sua maneira, retratar o seu cotidiano, encontra na obra da NOAHS uma identidade particular. O eu-lírico do quarteto catarinense (curiosamente formado por dois goianos, um mineiro e apenas um músico “da casa”) vive um misto entre o conflito e a compreensão das intempéries do amor.
No primeiro EP, Cedar & Fire, de 2014, a banda trilhava uma sonoridade mais característica do folk inglês. A rusticidade dos arranjos carregava uma inquietude que parece presente constantemente nas notas de cantores como David Gray. Era um álbum mais seco justamente por isto, ainda que seu sucessor não seja o melhor exemplo de um disco expansivo.
Lançado em fevereiro deste ano, Rise abarca uma nova leva de inspirações, estas, sim, mais puxadas para o formato que convencionamos no Brasil como indie e com doses de um pop moderno. Ainda que em perspectiva ambos os EPs representem a mesma NOAHS, é visível que há entre eles um vácuo do incômodo amoroso como elo. Se esta opção não é puramente estética mas representa, também, um direcionamento a um viés mais comercial, é certo que Murilo, Danilo, Bastos e Hipólito o fizeram bem, apostando em formas mais catárticas de expor sentimentos tão íntimos e, ao mesmo tempo, tão comuns, sem, no entanto, fazer isto efusivamente.
O ponto-chave é que a NOAHS ainda foi capaz de escapar de releituras miméticas do gênero, mesmo que Rise não represente um álbum inventivo no sentido literal da palavra. Não obstante, existem variadas formas de encarar e interpretar o amor (e tudo que com ele se relacione) e isso é o que vemos nos trabalhos do grupo catarinense.
Fica ao público curitibano a possibilidade de conferir o show da NOAHS no próximo dia 23 de setembro, sábado, no Sesc Paço da Liberdade. Para informações, confira o evento do show no Facebook.
NO RADAR | NOAHS
Onde: Florianópolis, SC.
Quando: 2014.
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