A cantora Etta James foi uma das maiores vozes da história da música. Foi a voz feminina definitiva do blues. Foi a rainha do soul. A diva do rhythm and blues. Nascida na Califórnia em 1938, se viva estivesse, Miss Peaches teria completado oito décadas e meia no último mês de janeiro. De vida agitada, temperamento forte, hits a perder de vista e, acima de tudo, uma potência vocal inigualável, sua obra e legado revolucionaram a música.
Etta foi imprescindível para a música enquanto ícone feminino. Reafirmou o talento e enalteceu a capacidade de artistas mulheres cantando em um estilo inteiramente dominado por homens. Mulher e negra, enfrentou preconceitos, quebrou barreiras e influenciou boa parte das cantoras que vieram a fazer enorme sucesso depois dela. De Tina Turner à Diana Ross, passando por Janis Joplin e chegando em Beyoncé e Amy Winehouse.
Etta foi imprescindível para a música enquanto ícone feminino. Reafirmou o talento e enalteceu a capacidade de artistas mulheres cantando em um estilo inteiramente dominado por homens.
A trajetória na música começou ainda na adolescência, quando (claro) cantava em corais de igreja. A tradição gospel, tão marcante para o desenvolvimento do R&B, do rock e do soul, também foi página fundamental na história da cantora.
Nascida Jamessetta Hawkins, em Los Angeles, veio ao mundo quando sua mãe tinha apenas 16 anos. Negra e pobre, “Etta” encontrou na música sua inspiração.
Descoberta pelo músico Johnny Otis ainda nos anos 50, ela abandonou o coral da igreja e tentou a sorte no mundo das gravadoras. Tinha energia e vitalidade demais para o sacro ambiente cristão.
Após a gravação de alguns compactos de relativo sucesso, como a antológica “Dance With Me Henry”, em 1955, sua carreira só teria outro ponto crucial quatro anos mais tarde, quando seu caminho cruzou com o de Leonard Chess.
Aqui vale um parêntese. Figura fundamental para o desenvolvimento da música norte-americana nos anos 50 e 60, a Chess Records, fundada por Leonard, em Chicago, vivia um momento ímpar na virada dessas décadas. Mais do que descobrir proeminentes talentos, como a própria Etta, a Chess Records foi responsável por lançar históricos trabalhos em estúdio de cantores do quilate de Muddy Waters, Little Walter, Willie Dixon, Chuck Berry e Little Richard, todos à época com vínculo com a gravadora.
O álbum de estreia de Miss Peaches pela Chess, At Last (1961), mostrou ao mundo a polivalência do seu talento vocal. Cantando desde standards comportados, até ritmos mais dançantes e sempre embalada pelo jazz, o lançamento fez da cantora um dos principais nomes da música nos Estados Unidos. Destaque ainda para as releituras dos clássicos do blues, “Just Wanna Make Love to You” e “Spoonful”, ambos compostos por Willie Dixon, e a poderosa “Trust Me”, onde Etta performatiza um vocal de tirar o fôlego.
Tell Mama, lançado sete anos depois, viria a se tornar outra clássico da cantora. Agora ainda mais solta e bebendo na fonte rock, Etta tem nesse álbum, provavelmente, seu trabalho mais reconhecido. Não à toa. O disco desfila ótimos e inigualáveis momentos.
A faixa-título tem bastante swing, com sua deliciosa linha de baixo em harmonia com o conjunto de metais. Na faixa seguinte, “I’d Rather Go Blind”, Etta gravou mais um momento histórico para a música. Em tom lamentoso, canta como poucas vezes uma mulher havia cantado. Uma canção feminina, em que o eu-lírico feminino é quem se lamenta pelo fim de um amor. O clássico reverbera até hoje e ganhou uma icônica regravação de Beyoncé, que no filme Cadillac Records (que narra a história da Chess Records) é quem interpreta Etta.
Colecionando problemas na vida pessoal e sofrendo com o abuso de drogas, Etta mantinha-se como uma das principais vozes da música. Mesmo com trabalhos grandiosos feitos na sequência, como o surpreendente Seven Year Itch, de 1988, e outros nem tão reconhecidos, seu nome estava sempre no topo quando o assunto era R&B.
Nos anos 70, o vício em heroína, que já fazia parte de sua vida há anos, passou a ser seu principal inimigo. A regravação de trabalhos de artistas consagrados, como Rolling Stones, Prince e Chuck Berry também passou a fazer parte de seu repertório.
Mesmo sem o brilhantismo de outrora, a capacidade de cantar e encantar o público permaneceu mais do que presente na carreira de Etta. Entre idas e vindas em clínicas de reabilitação, a página da cantora já estava escrita na história da música. E foi, sem dúvidas, uma das mais bonitas dela. Morreu em janeiro de 2012, cinco dias antes de completar 74 anos.
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