Trocando em Miúdos: Beneath The Skin, segundo álbum do Of Monsters and Men, traz potência e grandes harmonias para um sucessor a altura do aclamado disco de estreia do grupo. / [rating=4]
O Of Monsters and Men saiu como um foguete da Islândia nos últimos anos. A banda começou com o pé direito em 2011 ao lançar o disco de estreia, My Head Is an Animal, em primeiro lugar nas paradas do país, e daí só cresceu. Em 2012 veio o lançamento mundial; em 2013 as participações em grandes festivais e programas de televisão, músicas em trilhas sonoras de filmes e “Little Talks” tocando nas rádios em todos os lugares. Durante quatro anos a banda viveu do seu belo trabalho inicial e tirou dele tudo que podia, mas chegou a hora de apresentar algo novo. É então que surge Beneath The Skin, com diferenças perceptíveis no som e qualidade suficiente para manter o grupo no nível alcançado.
My Head Is an Animal era um disco que misturava música pop com folk e influências da música islandesa. Aliás, a Islândia é um país que realmente deixa os seus traços na produção cultural – independentemente do estilo. Desde Björk até bandas atuais de rock alternativo, como o ótimo Agent Fresco, há na música islandesa algo do seu país, algo de suas paisagens e do seu clima. Nenhuma banda retrata isso melhor no seu som do que o Sigur Rós, mas é interessante perceber como, até mesmo em bandas como o Of Monsters and Men – que canta em inglês e rapidamente saiu do circuito alternativo que engloba as bandas da terra gelada – é possível perceber estes traços.
Em Beneath The Skin esses traços parecem mais escondidos, embora ainda presentes. Aqui a banda claramente aposta em sons mais potentes e com produção grandiosa. Quase todas as músicas crescem em construções cheias de instrumentos, pianos trazem um tom dramático que se soma à belíssima voz de Nanna Hilmarsdóttir – que sempre carrega os momentos mais poderosos do álbum, deixando o vocal para Ragnar Þórhallsson nas partes acústicas e de introdução. A percussão forte e ritmada com batidas de tambor também aparece novamente nas músicas, levantando coros como uma fanfarra que lidera um desfile.
“Quase todas as músicas crescem em construções cheias de instrumentos, pianos trazem um tom dramático que se soma à belíssima voz de Nanna Hilmarsdóttir.”
“I Of The Storm” é uma das grandes faixas do disco, com toque ao mesmo tempo minimalista e grandioso, com a voz de Nanna em seu auge. A vocalista leva a canção em um vocal quase falado e pesado ao lado das batidas de fanfarra e piano. A música ganhou também um vídeo incrível (veja abaixo), com a interpretação do ator Atli Freyr Demantur. Outra faixa de destaque é “Empire”, que também deixa clara a potência dos vocais que a banda quis trazer para o disco, com um refrão cantado a duas vozes.
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Ao longo das 11 músicas é difícil achar alguma crítica a fazer. Em Beneath The Skin, o Of Monsters faz um disco redondo e cheio de pontos altíssimos, assim como seu trabalho de estreia, mas com uma produção ainda mais caprichada. No entanto, a impressão é que os singles funcionam ainda melhor sozinhos. “I Of The Storm”, “Empire”, e “Crystals” mostram por si só o que a banda quer apresentar, e esse é, talvez, o ponto que deixa o álbum menos memorável. Por mais que seja recheado de boas canções, é um trabalho que pode não dar ao ouvinte a vontade de escutar do início ao fim, como uma obra completa, mas sim em faixas esparsas no repeat.
É um disco mais denso, com mais momentos de reflexão e até de raiva, em letras tristes que refletem desapontamento e cansaço, como a calma “Organs”. Não há aqui uma animada como “Little Talks”, mas é possível perceber como as letras soam mais importantes e sinceras. No fim das contas, o que fica mais claro é o talento de cada parte do Of Monsters and Men. Os vocais incrivelmente belos, a sutileza instrumental nos momentos mais calmos e a explosão de sons nos refrões em coro. Tudo aqui é bonito e feito com imensa destreza e carinho, evocando as paisagens e luzes da Islândia para o mundo todo.