Verdade seja dita. 2015 não foi um ano dos mais saborosos em diversas áreas. Ainda assim, parece que para a música autoral paranaense o ano foi frutífero. E não digo isso apenas do ponto de vista dos lançamentos. Eles sem dúvida são marcantes, afinal, dão uma dimensão de como andou a produção ao longo dos 365 dias o ano. Mas sabemos que uma cena musical se faz mais do que através de novos discos, EPs e singles.
Essa foi a razão para que não fizesse uma lista sobre novos discos ou melhores artistas paranaenses de 2015. É nocivo dentro de uma cena tão fragmentada e plural você dizer o que foi bom, um juízo de valor tão subjetivo. Sendo assim, como olhar para a música local no ano que passou?
De janeiro a dezembro do último ano vimos (ao menos os que se aventuraram) e ouvimos shows, festivais, festas e todo tipo de fuzuê possível. Pelo tamanho, tempo e importância de grupos e/ou artistas, alguns marcaram mais do que outros.
É nocivo dentro de uma cena tão fragmentada e plural você dizer o que foi bom, um juízo de valor tão subjetivo.
Lemoskine e Banda Gentileza são, provavelmente, os lançamentos mais significativos de 2015. A Gentileza trouxe Nem Vamos Tocar Nesse Assunto, seis anos depois de Banda Gentileza. Após mudanças na banda, o grupo voltou mais maduro e forte. Enquanto isso, Rodrigo Lemos voltou determinado. Seu Pangea I Palace II é imponente, conceitual.
Grupos sem lançamentos também brilharam. A Trombone de Frutas fez dois shows memoráveis em 2015. Primeiro, suas releituras da obra de Vinicius de Moraes. Depois, o show com a lenda viva Jards Macalé. Após Chanti, Charango, de 2014, a vibração do grupo nos palcos deixou uma enorme expectativa pelo novo trabalho, que deve vir em 2016.
2015 também teve seus altos e baixos. Depois do risco de fechamento do 92 Graus, chegamos no novo ano sem o DamaDame; ganhamos de volta a Rugas do Mar, mas perdemos a Simonami; ouvimos a linda produção feita fora da RMC, com trabalhos consistentes, como da Nort Moskow, Red Mess e Vulgar Gods, mas a maior parte deles nem passou perto dos palcos curitibanos.
O ano passado também foi um ano de surgimentos: o peso da Pantanum, o neo-indie de Martins, a MPB da Tempo Livre; e de sumiços: vimos pouco a Sonora Coisa, a Mistinguett Live, a Heavy Metal Drama, a Uh La La!, a Watch Out for the Hounds.
Foi um ano no qual a cena hip hop paranaense ficou mais forte, com o Circuito CWB de Rimas e a onipresença de Cabes, Cadelis e uma turma que faz de Curitiba a cena mais efervescente do hip hop nacional. Não é para pouco, amigos.
Um ano em que o The Shorts surgiu para ser uma das melhores coisas que temos em termos musicais. Em que a e/ou e a Fauno fizeram com que Caetano Veloso não saísse de nossas cabeças. A primeira, com um EP que é o nosso Transa. A segunda, com uma versão de “You Don’t Know Me”, do mesmo Transa, durante sua apresentação na Corrente Cultural. Sem dúvida, o show que mais me emocionou no evento.
Aliás, a Fauno ganhou as páginas de uma publicação argentina; Os Irmãos Carrilho invadiram Porto Alegre no El Mapa de Todos e a Sonora Coisa entrou na lista de melhores de 2015 da publicação Forkster. O Paraná ultrapassou barreiras e fronteiras, mas ainda finge que Mc Mayara e seu funk eletrônico não são daqui. No máximo, um desvio na curva, afinal, só o que é “bom” interessa. As idiossincrasias paranaenses.
Entramos em 2016. Que seja com os dois pés no peito e muitos decibéis. Continuaremos nos encontrando às quartas.