Com uma batida no estilo boom bap e produção de Dário Beats, a Forma Única, grupo de rap de Ponta Grossa, lançou seu primeiro álbum. O grupo, formado por Guilherme Guinomon, Lucas Portella, Guilherme Tomate, DJ FB e Butuca Beats, mostra-se muito sólido com seus beats, resgatando uma essência mais clássica do hip-hop, sem tantas firulas, destilando versos de forma bem definida.
Apenas o Essencial conta com algumas participações, entre elas a de Cabes MC, também responsável pela captação, mixagem e masterização do álbum. A Forma Única executa seu trabalho confiando basicamente em retratar seu próprio cotidiano, o que enxergam na vida de pessoas comuns, criando rimas em que o ouvinte consegue se identificar de forma fácil.
Agregando qualidade ao trabalho dos meninos de Ponta Grossa, o flow é muitíssimo bem trabalhado e versátil. Há, ainda, pequenos elementos de soul music fundidos com as batidas que formaram um casamento interessante, cadenciando o som do grupo, como na segunda faixa do álbum, “Sempre Estarei Aqui”.
Difícil não notar o bom trabalho de produção de Dário. A cena rap paranaense, uma das mais fortes e estruturadas do país, é cheia de bons MCs e beatmakers, e isso se estende ao trabalho de bastidores. “Já Foi” é uma pérola pronta para tornar-se hit, lapidada com esmero, de forma a levar um produto de qualidade ao ouvinte.
Por sinal, uma das qualidades da cena paranaense fácil de identificar na Forma Única é a construção que preza por conferir uma identidade ímpar.
Por sinal, uma das qualidades da cena paranaense fácil de identificar na Forma Única é a construção que preza por conferir uma identidade ímpar, em que batidas, samples e instrumental agem a serviço das habilidades dos músicos. Desta forma, Apenas o Essencial é coeso, composto de forma a respeitar as características do grupo.
Aliás, a construção de Apenas o Essencial consegue se esquivar de ser monotemática, ou de apropriar-se de fórmulas conhecidas do hip-hop. Também ganha pontos ao não criar uma narrativa esquizofrênica, na qual diversas eras e experimentos do rap são jogados de forma desordenada, criando um caos sonoro. A variedade de nuances impressas no disco é complexa, moderna e com um olhar muito íntimo dos integrantes da Forma Única, o que demonstra um exercício coletivo com alinhamento estético que aposta na pluralidade.
Onde poderá a Forma Única chegar? Esse é um esforço de futurologia desnecessário e que não me arriscaria em fazer. Naturalmente, espera-se que o grupo compreenda que ainda é pouco o que se obteve, que há espaço para crescer mais, ainda que seja, também, momento para apreciar as respostas do público do disco recém-lançado.
Se o hip-hop ensina algo à música é que diálogos são infindáveis, por vezes até dignos de sequência, de ampliação. Vivendo um momento político conturbado e instável, sabemos que a visão e mergulho do rap nos temas do cotidiano das classes que efetivamente são penalizadas com as crises (incluindo, principalmente, a econômica), a Forma Única terá muita inspiração para continuar nos apresentando seus recortes urbanos. Bom para nós.