O Tumblr nunca foi uma rede social muito famosa no Brasil, talvez por isso seja um pouco difícil explicar para o leitor a importância que ela teve fora do país, em especial nos Estados Unidos. Dizer que a rede foi responsável pela popularização do formato GIF é reduzir a importância dela, que teve papel preponderante no surgimento da artista que hoje ilustra a “Radar”.
Babeo Baggins tem 24 anos e se identifica como uma pessoa não-binária. Com uma carreira que já caminha para seu quinto ano, Babeo faz rap com várias nuances, especialmente depois que, em 2015, lançou-se também em carreira solo. R&B, country, soul, folk. Não há limites. Foi no Tumblr que a Barf Troop, sua “banda de origem”, se formou, usando a rede social tanto como um laboratório quanto como mecanismo de divulgação dos raps que produziam – sempre à distância, já que seus integrantes moravam em localidades diferentes.
Com uma carreira que já caminha para seu quinto ano, Babeo faz rap com várias nuances, especialmente depois que, em 2015, lançou-se também em carreira solo. R&B, country, soul, folk. Não há limites.
O Barf Troop funciona como uma espécie de coletivo, do qual Babeo é um dos elementos. Foi atrás da tela de um MacBook, em uma região ligeiramente isolada dos grandes centros, que ela e sua trupe deram início a um projeto audacioso – e muito rico. Ainda hoje, ela e os demais integrantes do grupo colaboram principalmente de forma digital, tendo como grandes princípios a liberdade criativa (nada incomum, já que surgem em um local onde a liberdade é princípio básico de existência) e a paixão pelo rapper Drake (que chegou a postar fotos usando camisetas da Barf Troop).
O universo hip-hop sempre foi muito ligado a causas ou regiões (seja em São Paulo ou em Atlanta), então a ascensão da Barf Troop foi um marco para o próprio gênero, menos pelo meio, já que outros coletivos produziam singles e mistapes através do Tumblr, mas por terem sido abraçados pelo público também no “mundo off“. Transpor as zonas limítrofes do ambiente digital nem é uma novidade há muito tempo, mas talvez poucas vezes tenhamos tido acesso a artistas que conseguiram provar fora do quadrilátero cibernético sua qualidade. E certamente Babeo Baggins é um excelente exemplo dessa vitória da qualidade.
https://www.youtube.com/watch?v=06i36dXZQPs
As canções de seu, até agora, único disco, o delicioso Positive, soam íntimas e divertidas, mas não se furtam a ir a outros extremos. Seus versos possuem tanto excentricidade quanto vulnerabilidade, procurando imprimir uma identidade musical bem selvagem. O mesmo vale para seus singles posteriores, todos passeando por ritmos em que a sensualidade transborda, mostrando uma coesão entre melodia e letra impossível de não penetrar na alma do ouvinte.
Sobre isso, Babeo já fez questão de dizer que versa sobre as coisas que pensa e vive, numa tentativa de trazer sua verdade para a música. “Não sou um personagem ou uma fantasia. Esse é quem eu sou”, afirmou em entrevista ao Washington Post. Babeo cresceu em uma zona rural da Virgínia, onde sentia uma solidão inabalável. Foi esse o cenário propício para que encontrasse na internet, atrás de uma tela de computador, o alívio para uma vida real dura. O Tumblr não só funcionou como uma ferramenta para que fizesse novos amigos, mas em que podia se expressar sem medo de rejeição.
É claro que o passar do tempo trouxe coisas desagradáveis para o ambiente digital. Até por isso, seu nome real nunca é utilizado em entrevistas em nenhum meio, já que foi vítima de trolls e haters, irritados por conta da postura transgressora do Barf Troop e da própria Babeo.
Entretanto, isso não aprece intimidar a rapper. Em outra entrevista recente, ela afirmou: “Você pode ser suave. Você pode ser um nerd. Você pode ter cabelos coloridos. Você pode ser você mesmo.” Então, siga sendo, Babeo.
NO RADAR | Babeo Baggins
Onde: Leesburg, Virgínia.
Quando: 2013.
Contatos: Twitter | Instagram | YouTube | Bandcamp
Ouça ‘Positive’ na íntegra no Spotify
