No país que mais mata trans e travestis, surge Rosa Luz. A mulher que sai das estatísticas e faz é sangrar poesia com o lançamento do seu EP Rosa Maria Codinome Rosa Luz. Poesia da periferia, poesia da mulher negra e trans, que resiste todos os dias ao sentir que se a “morte não chegou é mais um dia de sorte”.
É a mulher que nasceu no cerrado quente e não cala. Atira no racismo, no machismo e na transfobia com rima. Se joga no flow que eleva a quebrada e que nos chama para a luta de combate ao preconceito. É quem chega no bang, que une trap, rap e funk na capital do Brasil pra mandar o recado: “Sem sargento, sem sarjeta / Queimem as celas, criem oportunidades / Liberdade para corpos marginalizados transcenderem nessa porra de cidade”.
Em conversa com a artista, ela conta que é “uma avalanche não-linear de informações, questionamentos e muito afeto.” Uma avalanche que traz a descolonização e retrata as mulheres negras brasileiras como rainhas afrolatinas. Rainhas gordas, rainhas magras, rainhas trans. Rainhas que merecem o máximo respeito.
Aquilombada em táticas ancestrais de oralidade e comunicação, o feminismo preto e a sororidade ecoa em suas letras.
Aquilombada em táticas ancestrais de oralidade e comunicação, o feminismo preto e a sororidade ecoa em suas letras. A faixa “Clã das Mina Preta _ Quebrada Combativa” fala da união da mãe e das filhas contra os abusos do pai e aponta o empoderamento feminino e a consciência negra como revolução contra as violações sofridas ao longo da história. História de guerreiras pretas que foram submetidas à escravidão e que hoje têm ancestrais que continuam a sua luta e não se submetem ao sistema.
A letra ainda faz uma crítica ao falocentrismo: “pinto de macho não é o centro do mundo”. É o aviso pra as manas não terem medo e saberem que estamos todas juntas como lobas: “se te abusam em casa ou na rua – grite alto para a lua para que outras mulheres escutem tua tortura. Denuncie!”
No álbum de Rosa, o que chama atenção também é a qualidade dos sons instrumentais e beats que embalam suas letras. A primeira faixa inicia com um pandeiro de Bia Sabiá e o assovio de Felipe Augusto, o que faz viajar a um som típico nordestino e depois nos insere num beat pesado do Beats by Velhot e no flow da “mina de peito e pau que representa no astral”.
É o quilombismo em ação! É o som de quem dialoga “com os manos e minas da quebrada a partir da arte, que transcende qualquer barreira e preconceito”. Como na música “Periferia”, um som produzido em coletivo com diversos artistas do Distrito Federal, que traz o questionamento do que a periferia significa.
A resposta? Resistência. Aquela “que não é mostrada no telejornal”, aquela que pede paz. É o “lembrete diário ao amanhecer do sorriso e ao choro da noite que a vida não é enfeite de vaso”. É o grito potente por Luz na caminhada. É pra que Rosas guerreiras floresçam, sigam vivas e possam andar nas ruas sem temer as estatísticas.
NO RADAR | Rosa Luz
Onde: Gama, Distrito Federal.
Quando: 2016.
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