Preciso falar para todos vocês o quanto sou fã de filmes de terror, principalmente dos filmes B de antigamente. O problema foi a acomodação que fez o gênero cair num marasmo impressionante nessas últimas décadas. Por isso que A Bruxa se destacou em 2016 reinventando, na minha humilde opinião, o terror (leia nossa crítica aqui).

No conforto de fórmulas seguras, como sobrenaturais feitos na base de efeitos especiais carregados, câmeras em primeira pessoa relatando a agonia do protagonista e cenas de susto carregadas de sons agudos, o filme consegue criar uma atmosfera sombria perfeita e mexe com seu psicológico sem apelar em momento algum. Essa mesma lógica pode-se transferir para o pai do rock, quando falamos de música.
Ficou por muito tempo estigmado que o Heavy Metal bruto, como o Doom, o Death e o Black, seriam os verdadeiros hinos de culto ao sobrenatural e ao demônio, especialmente com históricos de assassinatos, suicídios e até de sacrifícios e atentados como pano de fundo; acontece que essa obviedade já seleciona claramente os fãs e sua música já acaba não sendo tão bem aceita por pessoas de outros gêneros. Nessa linha, o Stoner Rock — ou mesmo a linhagem mais clássica do Heavy Metal — age como A Bruxa, reinventando as referências ao diabo e criando uma atmosfera muito mais enigmática e assustadora do que o mais pesado do Metal.
E esse trabalho é perfeito quando avaliamos o som do Orchid, um quarteto de São Francisco que pode ser considerado a verdadeira A Bruxa em um cenário que o bode, o pentagrama e as repetições violentas se tornam comum. Influenciados por Black Sabbath, primogênito no estilo, a banda retirou seu nome de uma das músicas do grupo, pegou o visual dos anos 70 em fotos cheias de filtros com baixa temperatura e saturação. No álbum, elementos de rituais em grafia, traços enigmáticos e músicas que misturam elementos que vão desde a “War Pigs” e “Paranoid” a overdrives e bumbos frenéticos encontrados em Orange Goblin e Mastodon.

E esse trabalho é perfeito quando avaliamos o som do Orchid, um quarteto de São Francisco que pode ser considerado a verdadeira A Bruxa em um cenário que o bode, o pentagrama e as repetições violentas se tornam comum.
Conheci Orchid de uma maneira peculiar, quando vi Derrick Green do Sepultura se apresentando com uma camiseta dos caras. Na curiosidade, procurei mais sobre o grupo esperando um metal pesado e furioso ou um crossover elegante. E tudo que achei foi um álbum mesmerizante e incrível do início ao fim em Capricorn, o primeiro full-lenght do grupo, que encontra seu maior sucesso em faixa homônima e na gravura impressionista de Baphomet logo na capa.
Os vocais agudos presentes no disco é um maravilhoso ponto comum entre Ozzy e Dio, enquanto as guitarras são compostas por riffs curtos e solos magistrais, como Tommy Iommi faria. As percussões cruas e pesadas são bastante perceptíveis e perfeitas e o álbum e suas 9 faixas se tornam uma releitura magnífica do Vol.4 da nova geração. Além disso, todo o cenário da banda é composto por velas e tons e mais tons de ocultismo, revelando sempre a intenção de ser o mais fiel possível ao seu conceito artístico.

O segundo álbum do grupo é The Mouths of Madness, lançado em 2013, que segue o mesmo formato de 9 faixas e sons completamente pesados e crus que deixariam tio Ozzy orgulhoso. Orchid é parte do grupo de novas bandas que vê no saudosismo instrumental a ponte para o sucesso com o público, tendo em seu vocalista, Theo Mindell, o timbre perfeito para cantar temáticas mais sombrias e ocultas, diferente daquela nova escola do rock farofa com vozes agudas e instrumentais lentos, mais dotados de efeitos que de melodia.
Orchid vale cada play que recebe. E também pelo seu efeito devastador e peculiar, que a gente sente saudades desde Born Again.