Há, mesmo que não escancaradamente, certa preguiça por parte do público e crítica a alguns dos subgêneros do rock. É como se o que fugisse ao indie se tornasse um misto entre obsoleto e sem graça. Conceituou-se que certas vertentes não seriam dignas de espaço no jornalismo cultural, ficando relegadas aos pequenos blogs de nicho. Heavy metal, black metal, hardcore e até stoner rock geralmente não ganham linhas nas colunas musicais. Fica a pergunta: como manter uma cena independente se a quem cabe o papel de apoiar não o cumpre?
Como um power trio que se preze, há muita sinergia entre os músicos e seus instrumentos. Cada nota soa afinada e cheia de energia.
Esse é o difícil cenário que o power trio curitibano Garden of the Eatingtapes enfrenta dia a dia. Que seja dita a verdade: Cristiano Castilho já cedeu espaço em sua coluna para falar sobre o grupo (leia matéria aqui) e vive sendo um dos poucos nomes do jornalismo paranaense a lutar pela divulgação da cena independente, mas ainda assim parece que a cidade oferece certa resistência ao som da banda. Formada por Tiago Oliveira, Kiko Sousa e Felipe Hotz, a Garden of the Eatingtapes (nome que, segundo os músicos, se refere ao jardim do inconsciente e a tudo que é possível encontrar por lá) possui um disco, Twist of Fate, sendo que parte dele foi gravado no Costella, de Chuck Hipolitho (Forgotten Boys, Vespas Mandarinas), em São Paulo. O segundo, Faster Than Light, está em processo de gravação.
Com forte influência no rock dos anos 1990 e 2000, como Nirvana, Queens of the Stone Age, Arctic Monkeys e Foo Fighters, a Garden of the Eatingtapes flerta inclusive com o stoner rock, provavelmente muito mais do que a própria banda possa imaginar. Como um power trio que se preze, há muita sinergia entre os músicos e seus instrumentos. Cada nota soa afinada e cheia de energia. Outro ponto importante e que chama atenção é a afinação do vocalista e guitarrista, Tiago Oliveira. A potência vocal do cantor em faixas como “Mysteries” e “Questions” mostra como boa técnica é capaz de elevar um grupo de rock a outro nível. O trio escolheu o inglês para cantar, o que casou bem com o estilo da banda. A fluência no idioma, a clareza de pronúncia e uma boa dicção também se destacam.
O rock torna-se chato e enfadonho quando permitimos que caia na mesmice. A riqueza dos contrastes oferecidos pela Garden of the Eatingtapes surge como um alívio. Oxigenar a cena musical abrindo espaço para que outras vertentes possam emergir é positivo para todos. O próprio grupo demonstra isso nas nuances sonoras de sua melodia. Dão um passo adiante ao permitir que suas influências sejam apenas uma camada, pincelada com suas belas composições e seus riffs que, apesar de esconderem uma obscuridade adjacente, são fortes, crus, sinceros. E na semana de comemoração simbólica do rock and roll, não é justamente sinceridade que pedimos aos novos artistas? Se são mais palhetadas e menos pose que desejamos, então estamos em boas mãos com Oliveira e companhia.
O rock não morreu, não está em coma e muito menos letárgico. Ele sobrevive nas garagens, bares e festas independentes. Esqueçamos esta história de que ele não é o mesmo de 20, 30 anos atrás. Nós também não somos. Saia da sua bolha e prestigie a cena independente local.