A polêmica da semana envolvendo a banda Apanhador Só (você pode ler mais sobre isso no artigo da Fernanda) trouxe à tona mais uma história de machismo no meio musical. Se por um lado, é sem surpresa que acompanhamos a denúncia de mais artista, é também com certa satisfação que pudemos ver a repercussão e a subsequente interrupção das atividades da banda.
Cada vez mais fica claro que as mulheres, fatia considerável – e exigente – do público consumidor de cultura e da população economicamente ativa, não está disposta a continuar aplaudindo artistas que divulgam uma imagem ao mesmo tempo em que praticam coisas completamente distintas. Paralelo a isso, surge também o desejo de consumir e divulgar obras, sejam elas de qualquer natureza, de autoria feminina. Assim, foco aqui hoje aproveita o ensejo para divulgar o trabalho de algumas mulheres que podem passar a figurar na sua playlist:
Letrux
O primeiro trabalho solo de Letícia Novaes após o fim do Letuce, duo de MPB do qual participava com Lucas Vasconcellos, talvez merecesse uma resenha inteira só para si. A multi-instrumentista e atriz carioca mistura batidas eletrônicas a letras que não hesitam em rir da tragédia em um álbum impossível de ser ouvido apenas uma vez.
Em entrevista ao Jornal O Globo, à época do lançamento, Letícia afirmou que sempre se viu como uma pessoal tragicômica e isso é de alguma forma o que percebemos no álbum, que caminha o tempo todo no limite tênue entre desgraça e comédia. Além disso, a instrumentação cheia de sintetizadores, em vez de apenas compor uma ambiência oitentista, acaba conferindo uma atmosfera bastante particular. Letrux Em noite de climão não é apenas um disco qualquer de estreia e, sim, um trabalho consistente de uma artista que está em busca de sua própria identidade.
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Dom La Nena
Nascida Dominique Pinto, a cantora e multi-instrumentista franco-brasileira toca todos os instrumentos em seus shows. Seu primeiro álbum, Ela, foi lançado em 2012 e chama a atenção pela atmosfera folk pop e pela voz doce de Dominique.
A jovem e talentosa cantora e compositora também lançou um álbum em parceira com Rosemary Standley, cantora franco-americana, no qual ambas tocam músicas dos artistas que serviram de inspiração ao longo de suas respectivas carreiras. De todas as recomendações que faço hoje, Dom La Nena talvez seja o maior achado, não só pela obra em si, que esbanja criatividade, mas pelo fato de que a cantora é uma verdadeira desconhecida do público brasileiro, passando grande parte do seu tempo no exterior.
Mademoiselle K.
Rock seco e raivoso cantado por uma francesa de personalidade forte, Mademoiselle K. é a banda liderada por Katerine Gierak, que alcançou a fama em 2006, com o álbum Ça me vexe. Apesar de cantar essencialmente em francês, a banda lançou em 2015 o álbum Hungry Dirty Baby, cantado em inglês, que certamente teve como objetivo alavancar a carreira da banda fora dos países francófonos.
Apesar da boa qualidade e da fidelidade ao que é o som da banda em si, uma mescla de sonoridades punk e indie, Mademoiselle K. voltou às raízes e está novamente cantando em francês. A faixa “Sous les brulures”, lançada ontem, sinaliza que em breve teremos um novo álbum do grupo.