Luciano Faccini possui uma alma plural. Capaz de navegar por diferentes linguagens artísticas, Faccini carrega consigo o talento e a versatilidade do jogador que atua nas onze posições, cobra o escanteio e corre para a área para cabecear. Seu perfil, além de multifacetado, já se apresenta mais lapidado do que de seus companheiros de e/ou, e isto fica mais evidente no recente lançamento do grupo, o homônimo e/ou, primeiro álbum completo deles, lançado em parceria pelo Coletivo Altas, Onça Discos e Musicoteca.
O disco tem o peso da pena e dos riffs de Luciano, que atua, inclusive, como uma das grandes influências em sua própria banda. O músico traz de Uma História Úmida o viés mais experimentalista que assumiu no trabalho com Melina Mulazani. Direcionar uma lupa para e/ou é encontrar, a partir de Faccini, um grupo ainda insatisfeito, na busca por ir além, desafiando seus limites e provocando, com maior interesse, aos próprios envolvidos. A opção segue uma lógica interessante.
Para atingir seus objetivos, a e/ou sai da fase de inspiração tropicalista, mas segue na psicodelia e na contracultura. Há um flerte com a Vanguarda Paulista, em especial com Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção. A impressionante tessitura estabelecida pelo trio curitibano é menos delicada que a encontrada no EP Mientras. Não obstante, talvez haja um pequeno ruído presente no registro que não havia na primeira gravação da banda.
Para atingir seus objetivos, a e/ou sai da fase de inspiração tropicalista, mas segue na psicodelia e na contracultura.
Para uma obra que preza por manter-se à margem de regras e de uma estrutura mais mercadológica, e que aqui ainda procura estar como contraponto crítico, a faixa “Canto da Terra” destoa, principalmente porque sobram notas não desprendidas (ou erroneamente emitidas) e um tom nunca atingido. Já as demais nove faixas produzem uma ruptura que abraça uma regência não tradicional de arte e trilha a fronteira do experimentalismo. Esse namoro com a Vanguarda Paulista dá espaço ao estabelecimento de um movimento avant-garde em Curitiba, desde que haja artistas dispostos a ocupar este vácuo como já fizeram Luciano, Melina e Helena Sofia.
Entre o samba, o pop, o rock, a psicodelia e a MPB, e/ou é uma pequena ópera pop, que ao estar fora de moldes do que tradicionalmente entendemos por música popular, atinge um patamar de inventividade e ousadia. Tal qual no trabalho de Arrigo Barnabé e companhia, a crítica proposta por Luciano, Luque e Yasmine é mais interna, sem uma tentativa de utopia social, mas ainda extremamente críticos à nossa época de contradições.
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Não faltam análises sobre sonoridades, como em “Rosto Feio”, “Cartografia” e “Aquele que não veio”, momentos em que o trio propõe um diálogo crítico, estético e artístico. O trabalho vai além, explicitando o aspecto material do disco com a caixa que contém a obra física. Ou seja, o CD é suporte material da música e das artes que o acompanham, mas não deve ser confundido com a mesma. Se como disse certa vez o músico Wandi Doratiotto, líder da Premê, também integrante da Vanguarda, que ser independente é ter vocação marginal, resta ao grupo, e especialmente a Luciano, administrar o capital cultural que está sendo adquirido com seus trabalhos.
A e/ou lança o álbum na próxima quarta-feira, 24, em show no Sesc Paço da Liberdade. Com entrada livre, é um momento imperdível de estar em contato com uma obra que esteve sendo gerada ao longo de mais de um ano.
SERVIÇO | Lançamento do álbum ‘e/ou’
Onde: Sesc Paço da Liberdade | Praça Generoso Marques, 189
Quando: Quarta-feira, 24 de março, às 20h;
Quanto: Grátis;
Mais informações: Show – e/ou – Lançamento (evento no Facebook).