Letters, primeiro EP da banda curitibana The Ex Files, é um bom exemplo da nova geração de artistas que encontram refúgio no pop punk ou mesmo no retorno do emo. No caso específico da banda curitibana, é interessante notar que não é só em referências típicas que estabelecem sua sonoridade.
O grupo, formado por Dinho, Guilherme Festa, Willian Chan e Gustavo Padilha, também flerta com o post-hardcore, o rock alternativo e o post-punk. Debruçar-se no EP do grupo, um projeto que trata de relacionamentos, é encontrar um casamento coese entre Blink-182, Say Anything, The Early November e The Cure. Ainda que cada uma das referências, a princípio, pareça levemente distante (apesar da origem semelhante), elas servem mais como parâmetro de assimilação do som da banda, formada em fevereiro de 2016, do que pastiche sonoro ou um registro cacofônico, não harmônico.
Se o pop punk e o emo ficaram marcados negativamente na mente de muitas pessoas como vertentes pouco criativas e até imaturas, a The Ex Files faz um jogo interessante de equilibrar diversos elementos marcantes dessas cenas de forma até inventiva. Não há, entretanto, muitas novidades em questão de propostas sonoras. A originalidade do grupo fica mais restrita às composições, que ainda que tratem uma temática recorrente no gênero, o faz sem clichês típicos do emo – outro fator que determinou um olhar enviesado à vertente.
Leia também
» Radiohead e a volta do emo
» Tem pop no meu punk
A The Ex Files faz um jogo interessante de equilibrar diversos elementos marcantes dessas cenas de forma até inventiva.
O romance na música pode ser visto sobre as mais diversas formas, e mesmo que muitos já tenham se dedicado a isto, parece que o trabalho de novos artistas lança um olhar mais fresco, que mesmo sem novidades, pode estar mais conectado às novas gerações. E se, como diz João Gordo, é a partir de um pé na bunda que um bom letrista começa a ser arquitetado, Letters mostra composições coerentes com o público a quem se destinam, não recorrendo a um excesso de erudição e tampouco parecendo as frases feitas de embalagem de bala Icekiss.
Se, ainda assim, para os mais veteranos, as músicas do quarteto soam excessivamente joviais, o EP serve como um resgate de sons que curtíamos quando mais novos, em especial as canções como “#Preludio (last call before the first files)” e “Darkness”, em que o timbre de Dinho traz à memória Robert Smith e seu vibrato vocal.
Claro que seria um erro compará-los, até mesmo pela diferença no comprimento dos versos nas canções das duas bandas e no fato de que Smith possui uma extensão vocal diferente do músico curitibano. Ainda assim, é uma demonstração ótima de como as antigas bandas seguem sendo referências para artistas, que não necessariamente serão o que nós ouviremos, mas certamente jogo por terra esse papo raso de que “rock era bom antigamente”.
Agora é esperar o novo EP do grupo, que começa a ser gravado em agosto deste ano. Que seja tão interessante quanto Letters.