Começo esse texto deixando bem claro: amamos Ivete Sangalo e acreditamos que ela é a grande estrela pop da música nacional nos últimos 20 anos. Depois dessa declaração, precisamos urgentemente falar sobre o fato de Ivete não lançar boas músicas e grandes hits há muito tempo. Primeiro, precisamos diferenciar que grandes hits podem ser músicas ruins e músicas boas não necessariamente têm potencial para serem grandes hits. O grande problema da carreira de Ivete nos últimos muitos anos é que ela não tem produzido nenhum dos dois e vem vivendo basicamente de seu elevado carisma.
Ivete está lançando o single “À Vontade”, ao lado de Wesley Safadão, faixa que flerta com o universo eletrônico, porém, que soa bastante perdida e sem a força que esperamos do retorno da baiana. A faixa apresenta uma artista tentando se encontrar no atual universo pop nacional, mas parece ficar no meio do caminho: a música não se entrega à eletrônica, nem ao brega, fica sempre num meio termo bastante morno.

A faixa ganhou um vídeo clipe inspirado em Grease e conta com direção criativa de Giovanni Bianco – o brasileiro que já trabalhou com Madonna –, além disso, foi lançado com exclusividade no Fantástico, bem à moda antiga. “À Vontade” tem um belo clipe e ao menos mostra mais preocupação de Ivete em lançar algo distinto, diferente, o que já é positivo se lembrarmos de Real Fantasia (2012), último e péssimo disco de inéditas da cantora.
Ivete Sangalo é um furacão ao vivo e é um clichê repetir isso, mas é daí que se mantém seu sucesso desde meados dos anos 2000. Lançamentos como o seu show no Maracanã, em 2007, ou comemoração de 20 anos, em 2014, foram sucessos de venda. Seus discos de inéditas, contudo, pararam de ser interessantes lá em As Super Novas, de 2005, um discão cheio de hits. Seu trabalho de 2009, Pode Entrar, é distinto, apresenta parcerias ótimas com Maria Bethânia, Lulu Santos e Marcelo Camelo, porém, tinha como carro-chefe a insossa “Cadê Dalila?”, um dos últimos grandes hits de Carnaval da cantora.
Em 2012, a faixa “Dançando” até esboçou caminhos para se tornar um hit grandioso, mas não rendeu, o que não podemos lamentar, já que era uma faixa bem da medíocre e que desperdiçava o maravilhoso encontro da baiana com a colombiana Shakira.
Ivete Sangalo é um furacão ao vivo e é um clichê repetir isso, mas é daí que se mantém seu sucesso desde meados dos anos 2000.
O dueto com Wesley Safadão, por sua vez, entra no rol de parcerias feitas por Ivete neste ano: de janeiro pra cá ela já cantou ao lado de Solange Almeida (ex-Aviões do Forró), Joelma (ex-Calypso), Mestrinho e Naiara Azevedo. Pode ser uma prova da versatilidade da artista, mas também pode soar como uma tentativa de atirar pra todo lado, aceitando todos os convites para participações.
Sua parceria com Joelma é um dueto pra lá de esquisito: em “Amor Novo“, a cantora religiosa e homofóbica canta chamando Ivete de “miga”, numa tentativa forçada de vender uma amizade entre as duas artistas. Por outro lado, o encontro com Naiara Azevedo, em “Avisa que eu cheguei“, é até interessante, mais divertido, consegue casar o universo do sertanejo universitário com a força do axé de Ivete, sem forçação de barra. De qualquer modo, é seu encontro com Solange Almeida o melhor momento de Ivete nesse ano: “Revoltada” tem os ritmos do nordeste, a dubiedade sexual do forró e a química das duas soa verdadeira e sincera.
Ivete Sangalo é carismática, divertida e carrega uma multidão de fãs para onde for, por isso mesmo sua participação no The Voice Kids, por exemplo, é anos-luz mais bem quista que a presença histriônica de Cláudia Leitte na versão dos adultos (diz-se que, por isso mesmo, a Globo teria trocado as duas de lugar). Além disso, Ivete já cantou ao lado de Caetano e Gil (num disco bem mediano, diga-se de passagem), já gravou faixas de Carlinhos Brown, Michael Sullivan e Tim Maia e transformou as letras mais apaixonadas de Herbet Vianna em hits nacionais, por isso mesmo a gente sabe que ela pode trabalhar com quem quiser e como quiser. Mas, infelizmente, suas escolhas nos últimos muitos anos parecem preguiçosas, de uma artista que já conquistou muito e quer tão somente se manter onde chegou.
Ivete deveria aproveitar o fato de que todos querem uma participação ao lado dela e, a partir disso, montar um repertório novo realmente sólido e não faixas que parecem sempre mal finalizadas ou aquém daquela Ivete de faixas como “Festa”, “Abalou” e “Sorte Grande”.
Sabemos que a cantora tem todos os artífices necessários para manter-se no posto de grande estrela pop da música desse país, só que anda lhe faltando essencialmente a música. Torcemos muito para que Ivete Sangalo siga sendo o sucesso do momento e que não viva apenas dos êxitos do passado, por isso aguardemos os próximos lançamentos.