Eles sabiam que este dia chegaria. No fundo, por mais que tentassem evitar, eles tinham em mente que teriam que enfrentar este momento. Após um elogiado Desconocidos (2011), o agora duo Quarto Negro – Eduardo Praça e Thiago Klein – apresenta seu segundo disco, Amor Violento, um trabalho que faz jus ao nome. Narrar a potência dos sentimentos que permeiam um relacionamento – ainda mais quando o disco faz, mesmo que despretensiosamente, um paralelo com o atual momento da banda – seria um desafio para qualquer grupo, inclusive os com longos anos de estrada. Porém, isto é tirado de letra pelos paulistas.
A Quarto Negro de Amor Violento é uma banda mais madura. Mergulhado em composições mais introspectivas e repletas de camadas psicodélicas escondidas (e outras não tão escondidas), o disco é um mergulho em apneia, sufocante, no qual queremos ficar submersos procurando atingir a maior profundidade possível. Se Praça e Klein queriam expurgar os problemas dos tortuosos últimos três anos, o fizeram com maestria. As guitarras, os teclados e a voz de Eduardo hipnotizam os ouvintes. Como a temática é universal, a sensação de pertencimento, de que aquelas composições conversam conosco, pulsa ao longo das 11 faixas.
Do teclado crescente em “Filhos do Frio”, à opera de “Espírito Vago” e “Em Tua Cama, Ancorei”, a Quarto Negro preenche o vazio com solidão, num grito seco e ofegante de quem sabe que não há companhia melhor que a de si próprio. Aliás, vale a menção da coragem do grupo em arriscar com duas faixas que superam os cinco minutos, atípico no cenário de rock nacional. Acertam – já que não tornou as faixas tediosas-, abusando da psicodelia, típica, por exemplo, das bandas de post-rock. Se há um mérito nisso tudo, é a capacidade de criar narrativas paralelas às letras, fazendo uma fusão criativa entre melodia e lirismo que foge ao que é dito “convencional”.
“A Quarto Negro preenche o vazio com solidão, num grito seco e ofegante de quem sabe que não há companhia melhor que a de si próprio.”
Amor Violento é mais cosmopolita que seu antecessor. Talvez pela experiência adquirida com viagens ao exterior, incluindo uma recente passagem pela KEXP, em Seattle, e por ter sido gravado em Portland, o duo absorveu os quilômetros ganhos na estrada, tornando o som dos músicos muito além do que convencionamos chamar de indie. E, creio eu, eles nem se importem tanto com rótulos (e assim esperamos que seja). “E ao final de que me importa / Com silêncio se tu ama / E a fraqueza depõe sempre contra si?”, canta Eduardo Praça na doce “Tua Fraqueza Depõe Calada”.
As gravações de Amor Violento duraram pouco mais de um mês. Benjamin Weikel (Helio Sequence), Justin Harris (Menomena) e Kathy Foster (Thermals) participaram do cruel, porém belo, álbum. “Aonde vai você, meu rapaz? / Te ouvi fugi devagar / O amor violento / Te arranca qualquer luz”, finalizam os músicos na faixa homônima que encerra o disco. Fiquem tranquilos, vou logo ali continuar a ter a certeza de que o rock nacional produz, dia após dia, canções que nos tomam para depois devolver transformados. O disco está disponível em serviços de streaming, dentre eles, o Spotify.