Rodrigo Hayashi, mais conhecido por seu nome artístico Rodrigo Ogi (e por ter feito parte do grupo Contra Fluxo), é cria da rua, das vielas da “Pauliceia Desvairada”. Doutor das rimas, o rapper abre um mundo de possibilidades nas dezesseis faixas que compõem seu segundo disco solo, o ótimo RÁ!.
Ogi faz questão de provocar o ouvinte a partir de suas batidas, da voz grave que corrompe os tímpanos e dialoga de forma mais aberta com o público, abusando de referências sobre a correria do dia a dia, um passo maior (e mais longo) que seu trabalho anterior, Crônicas da Cidade Cinza.
A Peu Araújo, da Noisey, Ogi resumiu seu novo momento. “Nesse novo disco eu envelheci, evoluí, aprendi mais coisa. Não só técnica de levada, de flow, de apurar mais o ouvido pra música, isso também, mas entra a evolução pessoal, a evolução da alma, mais vivência, tá ligado? Fazer um disco é isso”, resumiu o músico.
Essa percepção da realidade, seu olhar atento para esmiuçar o que se esconde do ‘grande público’, faz o bom combate do rap em trazer à luz quem a sociedade insiste em esconder – ou tornar estatística.
E nesse seu mergulho evolutivo, Rodrigo Ogi fortaleceu sua obra se cercando de grandes nomes, como Mao (ex-Garotos Podres), Rael, Juçara Marçal, além do onipresente Daniel Ganjaman e seus arranjos plurais. Fortalecendo sua própria identidade.
Ogi estabelece em RÁ! um estilo próprio, vagando por temas urgentes do cotidiano paulistano e, por que não, brasileiro. “A mulher cheia de crack, e carrega um neném / Encosta do seu lado, quer um trocado / Você diz: ‘não tem'”, versa o rapper em “Estação da Luz”, canção em que divide os vocais com o músico Mao.
Essa percepção da realidade, seu olhar atento para esmiuçar o que se esconde do “grande público”, faz o bom combate do rap em trazer à luz quem a sociedade insiste em esconder – ou tornar estatística.
Nossa realidade, cada vez mais caótica, segregada e cruel, divide espaço com uma alegria contagiante, que pula do disco direto ao ouvinte, escancarando que o hip hop não precisa ficar dividido entre uma representação de “mundo cão” e “mundo cãozinho”.
Outra característica marcante do disco é a excelente demonstração de que a música (e outras variantes artísticas, diga-se) também é um objeto de estudo, em que a pesquisa não apenas torna a obra mais complexa, mas define que há um objetivo em sua realização.
RÁ! é repleto de boas referências à Era de Ouro do rap norte-americano. Por isso, alguns samples e batidas estão propositalmente mais pesados, um rap mais puro, se é que um gênero tão marcado pela miscigenação possa ser assim definido.
Junte a isso o encontro do músico com seus convidados, muitos oriundos de outras esferas da música, e temos um disco forte, equilibrado e que fortalece um gênero que não tem medo de se reinventar, nem que seja confrontando o passado com o presente.
Ogi em Curitiba
Em turnê de divulgação de RÁ!, Rodrigo Ogi se apresenta em Curitiba no próximo domingo, 17, no 351 Clube, como parte da festa I Love CWBEATS. A discotecagem fica a cargo do DJ Peen e do curitibano Nave, beatmaker e produtor do disco do Ogi.
SERVIÇO | I Love CWBEATS + Rodrigo Ogi
Onde: 351 Clube – Rua Trajano Reis, 351;
Quando: 17 de abril, domingo, às 18h;
Quanto: R$ 15 (antecipado) e R$ 25 (na hora);
Onde comprar?: Capsula Graffiti Shop – Galeria Cesar Franco – Emiliano Perneta, 30; 351 Café & Arte – São Francisco, 50; 351 Clube – Trajano Reis, 351;
Realização: I Love CWBEATS.
NO RADAR | Rodrigo Ogi
Onde: São Paulo, São Paulo.
Quando: 2003
Contatos: Site | Facebook | Twitter | YouTube
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