Se o jazz já é um gênero geralmente restrito a um grupo pequeno de apreciadores no Brasil, o que dizer da música experimental? Por sorte, a internet vem sendo uma ferramenta fenomenal da propagação da música experimental feita nos mais distantes cantos do mundo, inclusive na “distante” São Paulo.
O distante entre aspas tem uma lógica. São Paulo é um mundo dentro de nosso próprio país, e lá se escondem (ou se acham, dependendo do referencial escolhido) músicos com a coragem e o talento necessário para mergulhar neste ambiente para muitos de nós desconhecido. Um destes casos são os paulistas da Obasquiat, grupo formado por Jeferson Peres, Jeff Dias, Bruno Urbano, Marco Antonio e convidados, que busca na força mágica de John Coltrane e Rashied Ali e seu free jazz a parte essencial de uma arte que não se assusta em agregar elementos da música afro-brasileira, do noise, do funk e do rock alternativo para criar canções que podem representar um universo amplo, mágico e bastante atípico.
A Obasquiat tem como virtude uma sonoridade tão vital e metamórfica que rapidamente você se conecta com essa expansão mental trazida pelas colagens rítmicas e instrumentais.
Prolíficos, puseram no mundo quatro “filhos” nos últimos quatro anos. Pertussis (2015), The future is black – past and present also (2016), #Mœbius (2017) e Strugatsky (2018), o mais recente. Com identidades muito bem definidas, cada álbum apresenta um recorte sobre uma espécie de estudo sobre as possibilidades da música, procurando e percorrendo um caminho maior do que simplesmente uma ânsia pela virtuose.
Se por vezes, discos conceituais podem soar duros aos ouvidos menos habituados, a Obasquiat tem como virtude uma sonoridade tão vital e metamórfica que rapidamente você se conecta com essa expansão mental trazida pelas colagens rítmicas e instrumentais. Para Strugastsky, lançado de forma independente na segunda semana de janeiro deste ano, o quarteto convidou o trompetista Romulo Alexis e o baterista Carlos Eduardo para uma jornada intensa em um dos mais fundamentais instrumentos em um conjunto, em especial dentro do jazz – ainda que nem sempre seja possível ouvi-lo em primeiro plano em gêneros mais tradicionais, é o baixo que dita o ritmo das canções e assumo a liderança em vários momentos no jazz, no funk e no hip hop.
A Obasquiat se vale da ausência de rigor proporcionada pela improvisação do free jazz e faz disso a estética que abraça e toma conta de todas suas obras, essencialmente oníricas, fundamentalmente vibrantes. Se há quem considere o resultado do grupo apenas barulho (o que, creio eu, em nada ofende aos artistas), há quem seja capaz de ver uma poesia óbvia na rusticidade dos registros da banda. Enquanto ferramenta de comunicação, vale sempre a premissa que a mensagem também depende muito de seu receptor.
É necessário acompanhar a Obasquiat mais de perto, desde ontem.
NO RADAR | Obasquiat
Onde: São Paulo, São Paulo.
Quando: 2009.
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