O que você faria se fosse um pianista respeitado no circuito do jazz no Queens, em Nova York, e se apresentasse nos famosos basements com um grupo totalmente performático de amigos? Se você respondeu covers de música pop, você já tem meio raciocínio parecido com o de Scott Bradlee.
Deixa eu explicar melhor a situação para vocês: Scott Bradlee é pianista de jazz e idealizador da Postmodern Jukebox, um grupo de jazz e swing-orchestra, que começou se apresentando nos porões de sua cidade natal e hoje ganha zilhões de fãs graças aos videos performáticos no YouTube. De Red Hot Chilli Peppers a Beyoncé e Ed Sheeran, o grupo detona as bases mixadas nos maiores estúdios, montando sua própria versão recheada de downtempos e arranjos bem cinquentistas.
Meu primeiro contato com o trabalho de Scott Bradlee foi meio que por acidente. O músico foi o responsável pela composição de algumas faixas da trilha sonora da bem-sucedida franquia da 2k Games, a Bioshock.
De Red Hot Chilli Peppers a Beyoncé e Ed Sheeran, o grupo detona as bases mixadas nos maiores estúdios.
No game, Bradlee pegou hits contemporâneos e os colocou em seus arranjos clássicos. O jogador, então, podia passear em um cenário totalmente América nos anos 50 e ser surpreendido com uma música do R.E.M. em outro contexto. Foi por conta dessa sensação estranha — mas divertida — em que tive contato que fui procurar o responsável.
O que parecia apenas ser uma piada bem planejada pelos roteiristas, logo se revelou um trabalho sério e muito bem feito por alguém que tinha aquilo que todo bom músico deve ter: um certo grau de loucura. Scott Bradlee e sua Postmodern Jukebox são excelentes, pois ao mesmo tempo que presenteiam o ouvinte com o brilhantismo dos seus arranjos e ritmos, diverte e encanta com um entonação mais engraçada dada à música.
Grupos com essa veia de interpretação já não são novidade, mas Postmodern Jukebox dá um tom diferente por alguns outros motivos. Enquanto alguns grupos acabam se concentrando numa faixa padrão de gêneros ou décadas, Postmodern Jukebox abusa da miscelânea colocando em um mesmo álbum cover de White Stripes e seu rock de garagem com o ritmo suave e as notas altíssimas de “Halo”, a graça e o molejo de Rick Astley com os passos de Axl Rose em “Sweet Child O’Mine”. Aqui, a proposta é bem clara que não é o grupo que adequa seu jazz às músicas, mas sim que adequa qualquer música ao seu jazz e seu estilo característico.
Ouvir um dos trabalhos, qualquer que seja, é como entrar numa máquina que bagunça toda a linha temporal. Os discos não transportam o ouvinte para uma década em especial, mas claramente adicionam elementos característicos à nossa nova realidade. Nesse aspecto que eles ganham pontos incríveis, mostrando uma musicalidade tão boa e inovadora que não precisa ser saudosista em momento algum.
Scott Bradlee e sua Postmodern Jukebox é uma ótima escolha para quem gosta tanto do jazz quanto dos grandes hits da atualidade, e sua forma de apresentação para quem, de certa forma, já se cansou da fórmulinha da indústria fonográfica para vender discos.