Foi em 2014 que Shawn Mendes apareceu timidamente com o single “Something Big”. Shawn tinha apenas 16 anos quando seu álbum de estreia, Handwritten, foi lançado e chegou ao topo da Billboard 200, a principal parada de álbuns dos Estados Unidos. O êxito de seu debute, que incluiu, além do já citado, o hit “Stitches”, foi tanto que ganhou uma reedição, que já surgiu com outro sucesso, “I Know What You Did Last Summer”, colaboração com Camila Cabello, além de faixas ao vivo.
Mendes surgiu fazendo covers no falecido Vine e é o tipo de artista que se encaixa perfeitamente nos estudos dos duelos de cultura (a alta cultura frequentemente conflitando com a cultura de massa etc). Quem gosta, gosta, e quem não gosta, provavelmente nunca deu uma chance e, sem mais nem menos, diz ser “música ruim”. Acontece muito, com vários outros artistas, e não dá para negar. O preconceito musical ainda é muito forte.
Shawn Mendes (o álbum) é um produto da cultura pop da melhor qualidade e mostra um Shawn Mendes (dessa vez, o cantor) mais maduro e devidamente preparado para rumar novos caminhos e experimentar dentro da música.
Handwritten acabou acumulando a razoável nota 58 (de cem) no Metacritic — plataforma de referência que compila todas as críticas sobre um lançamento e gera uma nota. Illuminate, segundo álbum, mesmo com os sucessos “Treat You Better” e “There’s Nothing Holding Me Back” e a excelente “Mercy”, acabou passando despercebido pelo site.
Contudo, com o lançamento do álbum homônimo, na semana passada, Shawn conseguiu a cobiçada nota verde, chegando a pontuar 73 — agora está em 70 — e até a conseguir um 90 da Variety e 80 da NME. E não é por menos: seu talento se comprova a cada lançamento. Shawn Mendes (o álbum) é um produto da cultura pop da melhor qualidade e mostra um Shawn Mendes (dessa vez, o cantor) mais maduro e devidamente preparado para rumar novos caminhos e experimentar dentro da música.
“In My Blood”, faixa que abre o disco, é um poderoso hino crescente digno de ser tocado em estádios. O refrão, carregado de guitarras, diz “Às vezes eu penso em desistir / Mas eu simplesmente não consigo / Não está no meu sangue”. É esse o ponto forte do álbum e um motivo que faz qualquer músico se orgulhar: quando a canção se torna reconfortante e a mensagem pode ser um alívio para muitas pessoas.
“Lost in Japan” é forte candidata a ser um dos grandes sucessos do ano nas rádios mundo afora — desde o lançamento do vídeo com o áudio da canção no YouTube, há dois meses, já conta com mais de 30 milhões de visualizações. O piano que introduz a faixa parece prestes a revelar um jazz, mas logo uma forte batida pop toda instrumental e de refrão chiclete toma conta.
Outro nome de sua geração, Khalid é o convidado do single “Youth” — há, ainda, a participação de Julia Michaels em “Like to Be You” —, que na cerimônia dos Billboard Music Awards, no dia 20, foi apresentado pelo duo com o coral da Marjory Stoneman Douglas High School, escola onde, na mesma semana, um atirador matou 17 pessoas e feriu outras 15. “Acordando com as notícias / Cheias de devastações mais uma vez / Meu coração está partido / Mas eu continuo seguindo em frente / […] Você não pode levar minha juventude embora”, cantam.
Ninguém esperava, mas Shawn Mendes, aos 19 anos (a minha idade, caramba), lançou um dos melhores álbuns de 2018. A crítica, em maioria positiva, de pouco importa para ele que, em entrevistas, afirmou que quer fazer música “verdadeira”. Talvez seja por isso que escolheu seu nome para batizar o álbum: para mostrar quem ele é de verdade — e pode ser ainda mais. Que venham seus próximos discos.