“Quem é que não quer fugir sem hora pra voltar?” questiona o músico capixaba Lúcio Silva de Souza, o Silva, na faixa “Claridão”, que dá nome ao seu primeiro disco, lançado em 2012. Dois anos depois, em Vista Pro Mar (2014), ele canta que mergulhou pra não voltar e diz que vai deixar o mar o levar para outro lugar. Agora, em 2015, em seu recém-lançado Júpiter, ele sonha com um novo planeta que pode ser um lugar melhor, um lugar para recomeçar longe de tanta confusão e com mais amor. Praça da Sé, Paris, Madrid e São Francisco não são mais suficientes para a fuga dele, tão pouco o mar. Silva quer ir mais longe, quer escapar de todas as amarras, geográficas e pessoais, e o maior planeta do sistema solar representa isso.
Escapismos. Os discos do Silva são cheio deles, e Júpiter, o terceiro trabalho do músico, faz disso sua coluna vertebral. Como ele mesmo disse, a maior parte do trabalho foi composta durante viagens na turnê de Vista Pro Mar. Músicas e melodias criadas dentro de aviões, ônibus e quartos de hotel. Talvez seja na mistura do cansaço da turnê que Silva diz que encontra tédio em todos os lugares e quer algo novo. Nas viagens, também, como diz algum clichê que não me lembro bem, é quando nos conhecemos mais ainda, nos colocando sob perspectiva em um lugar novo. Isso faz de Júpiter um disco introspectivo também, de Silva em alguns momentos falando de si mesmo, do seu jeito e suas escolhas.
https://www.youtube.com/watch?v=ne7xMq2kN4c
Se em “Okinawa”, uma das faixas principais de Vista Pro Mar, Silva cantava sobre querer o amor mais perto, em Júpiter ele prega o desapego e a liberdade dentro do amor. Sem sufocos, apenas alegria. Essa mensagem se repete várias vezes nas letras, onde junto da liberdade de um lugar novo ele pede pelo ato de ser livre. Ser quem é e deixar o amor desamarrado.
É um disco para dançar devagar, sem exageros, em que o pano de fundo dá ainda mais destaque para a voz do cantor.
Nas composições, esse é o disco mais minimalista de Silva até hoje. Sua mistura de MPB com pop e sintetizadores veio mais devagar, com tons do R&B sensual que está fazendo tanto sucesso nos Estados Unidos (vide todos os novos trabalhos de cantores pop, como o Justin Bieber). É um disco para dançar devagar, sem exageros, em que o pano de fundo dá ainda mais destaque para a voz do cantor.
Mudando e sem perder a sua cara, Silva coloca mais um bom disco em sua discografia, até agora extremamente regular. Seus trabalhos soam sinceros, as mudanças parecem verdadeiras e naturais, e isso faz a audição ser sempre agradável. É um disco breve e, no fim das contas, até despretensioso ao não apostar em nenhum single de destaque. Que Silva continue tentando escapar ou que se encontre em algum lugar, mas que continue assim.