O crítico Simon Price, do jornal britânico The Independent, ao falar do novo álbum da canadense Alanis Morissette, o recém-lançado Havoc and Bright Lights, não foi muito gentil. Disse que a artista, que se apresenta hoje, no Curitiba Master Hall, é o tipo de mulher que pratica ioga para ter certeza de que continuará olhando para o próprio umbigo. O comentário diz respeito a um traço indissociável da obra da cantora: o tom confessional e autorreferencial de suas canções. Ela fala, fundamentalmente, de si mesma, enfim. Sempre. Mas não teria sido exatamente essa marca de autenticidade que a alçou, em meados da década de 1990, ao estrelato absoluto na cena pop mundial e, portanto, um de seus maiores trunfos? Pergunta difícil de responder.
Quem for hoje conferir a apresentação curitibana da turnê The Guardian Angel não vai ver sobre o palco uma artista que tentou se reinventar, navegando ao sabor das constantes mudanças de vento na indústria fonográfica durante as duas últimas décadas. Se incorporou elementos do rap e do hip-hop aqui, texturas da música eletrônica ali, absorvendo sonoridades em voga no momento em que produzia seus álbuns, a música de Alanis manteve-se bastante coerente consigo própria desde o estrondoso sucesso mundial de Jagged Little Pill (1995), que vendeu 33 milhões de cópias em todo o mundo e gerou nada menos do que seis hits, além de quatro Grammy, incluindo o de álbum do ano.
Sim, Alanis, como ela mesma disse recentemente em uma entrevista ao jornal The New York Times, é uma artista, na fronteira entre o pop e o rock, de vocação assumidamente “umbilical”. Em outras palavras, sua música fala, sobretudo, a respeito do que sente, vê e como percebe emocionalmente o mundo ao seu redor. Nesse papo, gravado ao vivo no auditório do jornal norte-americano e disponível em seu site ela conta que, antes de escrever as canções de um novo disco, tem o hábito de produzir textos para um diário, nos quais fala do que anda sentindo, do que a vem tocando, ou mesmo incomodando – e, geralmente, escolhe esses temas mais difíceis como força motriz das composições. São a base para suas letras, por vezes verborrágicas, o que incomoda parte da crítica, mas conquistou milhões de fãs ardorosos ao redor do mundo, muitos no Brasil.
Em outras palavras, sua música fala, sobretudo, a respeito do que sente, vê e como percebe emocionalmente o mundo ao seu redor.
Maternidade
Assim, desse processo de introspecção, nasceu Havoc and Bright Lights, concebido muito em torno da maternidade. Em 25 de dezembro de 2010, ela deu à luz seu primeiro filho, Ever, filho de seu casamento com o rapper norte-americano Mario “MC Souleye” Treadway.
O primeiro single do novo álbum, “Guardian”, que também, de certa forma, dá título à turnê, conta Alanis, tem muito a ver com o fato de ter buscado em si a força e a estrutura emocional que antes julgava não ter, para cuidar do filho, processo por meio do qual descobriu, também, ser capaz de cuidar melhor de si mesma, de ser sua própria guardiã.
Além dessa faixa, primeiro single de Havoc and Bright Lights, o set list do show inclui quatro outras músicas do álbum: “Woman Down”, “Havoc”, “Celebrity” e “Numb”. Os fãs curitibanos de Alanis, no entanto, podem ficar tranquilos. A cantora vai cantar praticamente todos os grandes sucessos de sua carreira, dos singles de Jagged Little Pill, como “You Oughta Know”, “Ironic” e “Hand in My Pocket” a “Uninvited”, tema do filme Cidade dos Anjos (1998), de Brad Sieberling, passando por “Thank You”, do disco Supposed Former Infatuation Junkie (1998), e “Hands Clean”, de Under Rug Swept (2002).