Trocando em Miúdos: Atitudes de gigantes como Taylor Swift e Jay-Z levantam debate sobre a visão de mercado musical na internet.
Taylor Swift protagonizou essa semana mais um caso envolvendo a disputa entre serviços de streaming e artistas. O caso ganhou bastante atenção e gerou uma reviravolta ainda sem precedentes nesse meio da música digital. Em um post em seu Tumblr, a cantora disse que não disponibilizaria seu disco 1989 (2014) no serviço de streaming da Apple, o Apple Music, pois a empresa não pagaria os artistas nos três primeiros meses de funcionamento do programa – período em que os usuários também faria teste gratuito. Após a carta, a Apple mudou de ideia e anunciou que iria pagar os direitos dos artistas desde o início. Não há mais como negar, o streaming é o que existe de mais relevante quando se trata de música online atualmente, e já é difícil separar o assunto do debate que surgiu lá no fim da década de 90 com o Napster.
Sobre pagar ou não por música, baixar ou não baixar, não vou me estender pois o colega Alejandro já cobriu o debate no texto “TIDAL e o retrocesso musical”. Sou um exemplo dessa nova geração que está voltando a pagar por música; baixei mp3 por anos e hoje assino o Spotify – de onde devo escutar algo como 90% de tudo que consumo de música atualmente. O ponto aqui é outro, que tem ficado cada vez mais curioso no meio dessa história. Com toda a questão do consumo digital e a internet como mediadora, o poder das gravadoras vem sendo questionado e alterado. Hoje já vemos elas apostando no stream e descobrindo como brincar nesse jogo da internet, mas casos recentes trouxeram à tona uma outra figura: o músico empresário.
Taylor é o resumo perfeito desse olhar de empresário que artistas estão criando no cenário atual. Com 1989, ela se tornou a artista que mais vendeu álbuns digitais na história e quebrou recordes que estavam intactos a décadas, com 1,3 milhões de cópias somente na primeira semana e o álbum mais vendido nos Estados Unidos em 2014 – mesmo sendo lançado na última semana de outubro. O que pode ter ajudado nesse número de vendas? 1989 não estava em nenhum serviço de streaming (e está fora até hoje). Basicamente, quem queria ouvir o novo álbum da cantora precisava comprá-lo, algo que nos dias atuais não é muito comum. Mas esse foi só o começo. Nos meses seguintes, Taylor Swift fez mais jogadas comerciais, como patentear algumas frases e palavras marcantes do álbum. Se você quisesse fazer um chaveiro ou uma camiseta usando a frase “This sick beat”, presente no hit “Shake It Off”, teria que pagar.
![Taylor Swift Tumblr Apple Music](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2015/06/taylor-swift-blog-apple-music.jpg)
“Custo a acreditar que, com os baixos valores pagos pelos serviços de stream, algo iria mudar drasticamente no bolso dos artistas pequenos.”
Hoje, Taylor reclama da falta de pagamento nos meses iniciais do Apple Music e diz que não se trata dela, mas sim dos artistas em começo de carreira ou quem lançou o seu primeiro single. Ok, parece bonito a estrela pop se martirizando em prol dos iniciantes, mas será que essa é também a opinião deles? Custo a acreditar que, com os baixos valores pagos pelos serviços de stream, que dão uma porcentagem muito pequena a cada play por canção (algo como U$0,001 por reprodução), algo iria mudar drasticamente no bolso dos artistas pequenos. Para o artista que está começando, a chance de aparecer no catálogo do serviço e ser descoberto por novos ouvintes é muito mais interessante do que esses centavos, e não cobrar uma assinatura obviamente traz mais ouvintes. É como no TIDAL, onde o dobro do valor da assinatura de outros serviços é cobrado para poder repassar um valor maior aos artistas – que no fim só vai fazer diferença para quem tem milhões de plays.
Aliás, Jay-Z e o TIDAL já começam a dar sinais de fracasso. Sexto na lista das celebridades mais poderosas do mundo pela Forbes, o músico sempre se aventurou como empresário. Da gravadora Roc-A-Fella à sua própria linha de roupas e suas boates, o nome dele sempre foi associado ao sucesso da mistura entre artista e empresário, mas a história parece que não se repete quando envolve a internet. Ele se propôs a salvar a indústria da música e fazer uma fortuna no processo, mas até o momento está longe disso. Nada no TIDAL fez com que as pessoas passassem a pagar mais para assinar o serviço. A qualidade do som prometida não é percebida em fones de ouvido comuns; o catálogo exclusivo é minúsculo e com poucas coisas relevantes.
![Jay Z Tidal A Escotilha Brasil](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2015/06/jayztidal1.jpg)
É bonito para o artista milionário usar o compositor iniciante na busca por uma maior remuneração pela música, mas será que a gratuidade não está funcionando para esse nicho com a internet? Um play de graça pode virar um fã que vai depois ao show ou vai comprar o disco. Pode virar um fã que vai financiar um crowdfunding e ajudar na produção de um álbum. A economia da música deve ser discutida, mas a reclamação soa sempre estranha quando vem de quem está no topo. Se as gravadoras perderam o poder de intermediar a distribuição de música para a internet, os músicos empresários às vezes fazem parecer que também já não é mais delas o trabalho de brigar contra a distribuição gratuita, mas sim do próprio artista.