Tito Puente: Rei do Mambo é o avô do “Despacito”

Desde 1917, a lei Jones-Shfroth Act permitiu que pessoas nascidas em Porto Rico também tivessem a nacionalidade americana reconhecida. Esta ação política acabaria influenciando a indústria da música de modo, digamos, “caliente”. No campo musical, abriu caminho para os músicos latinos conquistarem muitos espaços. E, deste ponto de vista, a boy band latina Menudo, por exemplo, chegaria aos ouvidos de milhões de pessoas ao redor do mundo nos anos ’80, por meio do hit “Não se Reprima”.

Mas o crescimento não parou na década mais colorida do século passado. Em 2017, 100 anos depois da lei Jones-Shfroth Act, artistas porto-riquenhos emplacaram 27 dos cem vídeos de música mais vistos do YouTube. Na plataforma de streaming mais acessada do planeta, o Spotify, dos seis artistas mais populares da América Latina, quatro são de lá: Fonsi, Yankee, Bad Bunny e Ozuna.

Foi neste momento de glória em que Puente gravou Dance Mania, vol.1. Amantes do jazz já conheciam a fusão entre o gênero e ritmos afro-cubanos que acontecia nas composições do ‘Rei do mambo’.

Ainda em 2017, um referendo indicou que a maioria da população de Porto Rico apoia a transformação no 51º estado norte-americano. A Casa Branca não curtiu essa proposta – o que não é nem um pouco surpreendente. Atualmente, a ilha é um estado livre associado dos Estados Unidos. Mas, isso é outro papo. Vamos à história por meio de outra história.

Em 1958, Tito Puente and His Orchestra lançou Dance Mania, vol.1, possivelmente o álbum de mambo mais vendido da história e certamente o maior êxito comercial da carreira do compositor e músico porto-riquenho. O “Rei do mambo”, como ficou merecidamente conhecido, gravou uma centena de álbuns, publicou mais de 400 composições, e, de quebra, ganhou cinco Grammy Awards.

Nos anos 50, o Mambo era quase onipresente em Nova York, e a banda de Tito Puente, estava entre as três melhores orquestras da cidade. Junto com a orquestra de Machito e Tito Rodríguez, eram a sensação entre os atentos nas novidades.

Esta relação de proximidade, para muitos, acabaria por “latinizar” o jazz nos anos seguintes. O que não parece ser um total equívoco, pelo contrário: “Oye Como Va”, gravação presente no álbum El Rey: Bravo, de 1962, e regravada por Carlos Santana em 1970, pode ser uma prova a favor do argumento da aproximação dos ritmos latinos ao jazz por influência de Puente.

Dance Mania, vol.1 é um disco especial, marcante, por vários motivos: funde estilos, gêneros, cria uma tendência e exibe o talento de um compositor inspirado, também como músico (Puente é percussionista e toca de forma magistral neste registro). O álbum está entre as 25 produções musicais consideradas mais importantes do século 20 por críticos do The New York Times.

Apesar de ser tratado na maior parte deste texto como porto-riquenho, Puente nasceu em Nova York, no Harlem, em 20 de abril de 1923, e era filho de porto-riquenhos. Cresceu num ambiente musical dominado por rumbas e boleros e, por isso, talvez, se transformou no líder musical do mambo, nos anos 50. Gravou peças musicais de jazz com Dizzy Gillespie, Lionel Hampton e Woody Herman.

Em 1987, aparece numa ponta do filme A Era do Rádio, de Woody Allen. Puente morreu em maio de 2000, aos 77 anos, e deixou um legado musical que segue avançando, não apenas nos números impressionantes das vendagens e cliques que a música latina ostenta, mas com a vocação de universalidade da música, como desbravadora de fronteiras e que aproxima e une as pessoas.